sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

ELEMENTOS MAQUIAVELIANOS PRESENTES NA DITADURA MILITAR BRASILEIRA



Ac: Eric Tadeu Miguel
Orientador: Prof. Dr. José Luiz de Oliveira

Resumo: A ditadura militar brasileira (1964-1985) usando o medo como coação, agiu dessa forma como estratégia para ter o povo sob seu domínio. Dessa maneira, os brasileiros sentiram a mão de ferro do poder, que por meio dos representantes do governo souberam articular o uso da força, e por meio de suas ações desfrutaram do poder durante um período de vinte e um anos. Porém, com a implementação das eleições indiretas, aconteceu a entrada e saída de vários governos, e em comparação aos escritos no Príncipe maquiaveliano, cada um deles deixou seu signo.  Para alguns, em se tratando de instituições e pessoas, sua forma de governo foi realmente positiva, para outros foi o contrário. Nesse sentido, elementos dessa obra clássica criada pelo renascentista florentino estavam presentes fervorosamente nas ações políticas durante esse período. Assim, por meio do livro O Príncipe , o medo, juntamente com a força bruta e a frieza foram os elementos necessários para o fortalecimento do regime militar.    
Palavras-chave: Ditadura; Força; Medo; República; Príncipe.




Considerações iniciais
   O seguinte acontecimento que praticamente durou 21 anos em nosso país e chamamos de Ditadura Militar, significa que durante esse período, temporariamente, o governo foi conduzido pelas Forças Armadas Brasileiras, não sendo normal o poder legislativo abrir mão para que o executivo governasse.
   Em sua obra (ensaio) A Ditadura Envergonhada, Elio Gaspari explica pontos como  o que significou esse período, esclarece sobre a questão da violência, explicita também o papel da esquerda e da direita. Esse autor procurou demonstrar como se armaram  a tortura realizada pelos militares no período da ditadura implementada por eles.
   O seguinte trabalho tem como finalidade, correlacionar O Príncipe de Maquiavel com pontos colocados anteriormente e que pertencem ao mesmo livro e dessa forma deixar claro que o medo foi a principal característica para a manutenção dos militares no poder.   

O significado ( da ditadura)
           Segundo as colocações feitas por Elio Gaspari, em 1977, havia uma distância muito grande entre Ernesto Geisel, presidente da república e Sílvio Frota, ministro do exército, que pelas explanações apresentadas na obra Sílvio frota estava contra o regime de liberalização de Geisel. A postura de ambos os ministros desde 1964 eram contrárias e por causa da tradição criada desde aquela época sempre prevaleceu. Naquele contexto, a vontade de Geisel pode ser comparada á a vontade do príncipe como na obra maquiaveliana e será explicitado no decorrer desde trabalho.
             O presidente Geisel, como foi colocado anteriormente, fôra completamente contra a posição de Frota :
  
Frota, nós não estamos mais nos entendendo. A sua administração no ministério não está seguindo o que combinamos...Bem, então vou demiti-lo. O cargo de ministro é meu, e não deposito mais em você a confiança necessária para mantê-lo. Se você não pedir demissão, vou exonerá-lo. (pág 22,).
          Analisando o acontecido, podemos perceber como algumas das ideias do livro O Príncipe estão bem fixadas nessa ação de Geisel. Podemos fazer uma relação disso com a questão que Maquiavel levanta acerca de como o governante deve agir, de maneira benevolente ou de maneira maldosa mas para agir de uma ou outra  é preciso saber a força  de seus adversários.
      Como o presidente já sabia da força de Frota, usou da maldade e da fortuna para manter-se no poder. A posição malévola é a mais indicada pelo filósofo como aponta na citação: 
“...uma vez que os homens amam de acordo com seu próprio desejo e temem de acordo com aquele do soberano, concluo que um príncipe sábio deve se basear naquilo que está no seu próprio controle e não no dos outros; ele deve se esforçar apenas para evitar ser odiado...” (O Príncipe,Universo dos Livros, 2009, São Paulo, pág 80).
      No que refere-se a esta atitude, Geisel usou de forma correta, dentro do estudo maquiaveliano, aquilo que estava sobre seu controle que neste caso seria sua posição como presidente e os privilégios que ele poderia usufruir, portanto demitir Frota da maneira como o autor descreveu, significa, no viez do florentino, erradicar o que o prejudicaria de uma só vez como também evitar ser odiado pelas pessoas que o cercam.
       O autor destaca que o general Golbery do Couto e Silva estava por trás de muitos acontecimentos, entre eles a saída de Frota e ele era uma das pessoas que mais colaborou com Geisel desde 1974. Se observarmos a atitude do presidente, ele agiu como indica o escritor italiano, de maneira prudente, pois pede ajuda a uma das pessoas de sua confiança, provavelmente analisa sua opinião mas toma a decisão de escutar o que Golbery lhe proporcionara.

         Então se observarmos a partir do que foi apresentado até agora, a ditadura nada mais foi que um regime concentrado nas mãos de militares, no caso apresentado aqui o poder estava nas mãos de Ernesto Geisel e Golbery Couto e Silva, com isso o presidente utililizou desse poder para realizar aquilo que achava prudente, ou seja o mesmo não admitia oposição a sua vontade assim como no príncipe maquiaveliano, o poder concentrado nas mãos de uma só pessoa faz com que ela redirecione qualquer situação visando sua manutenção no poder sendo ele a autoridade máxima.
       Isso explica porque a instauração do medo foi primordial para a manutenção da ditadura durante tanto tempo mas também o motivo de sua decadência, como na obra “O Príncipe”, o país tendo sua liberdade tirada pode ser comparado ao capítulo terceiro intitulado Dos Principados Mistos (pág 37) desta mesma obra em que na época da ditadura o presidente (o príncipe), tenta apagar os vestígios do reinado do príncipe anterior, no caso, os vestígios do governo anterior; a ditadura com seus meios sórdidos, implementa ao estado conquistado, neste caso, ao país conquistado, sua forma de coação por meio da violência como será esclarecido mais adiante.
       Assim, a ditadura militar brasileira, estando diante das informações apresentadas é muito parecida com o principe maquiaveliano devido ao fato da concentração do poder estar nas mãos de uma única organização e neste caso, a organização sendo representada por um único homem, o presidente Geisel que podemos representá-lo como o príncipe. Isso faz com haja consequências negativas devido ao medo que é imposto através da violência, ou seja a característica principal deste governo seria o medo imposto e tal será explicitado no próximo ítem.          



 OS ELEMENTOS ESSENCIAIS (força bruta, frieza e tortura)
          
      As colocações apresentadas anteriormente, pautadas nas investigações de Elio Gaspari acerca da ditadura são relevantes. Para que assim possamos nortear nossa investigação, sabendo que o assunto exige um rigor necessário e merecido, explicitaremos mais a respeito dos generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva e sua marca registrada que no caso seria a tortura e como essa atitude tem relação com as colocações de Niccolo Machiavelli  e a relação com a violência.
         Segundo o autor do ensaio, ambos os generais, cada um em seu posto no cenário nacional da época, participaram de forma ativa com um elemento usado tanto no começo até o fim da ditadura, que neste caso seria a tortura, como é colococado pelo autor:
                                                                                
                                                              No início e no fim entre a tortura e a                                                                                 sociedade estão os generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva. Ambos participaram dos primeiros lances da construção, em 1964, de um aparelho repressivo incapaz de conviver com um regime constitucional. Geisel colocado por Castello na chefia do Gabinete Militar da Presidência, estava no olho do furação da usina de punições políticas instalada ao amanhecer do regime. Golbery, concebendo, organizando, e dirigindo o Serviço Nacional de Informações, criou o núcleo da rede de espionagem e represão que, a partir de 1968, tomaria conta do Estado.  
       
            Quando a tortura passa a ser uma característica de dominação, pode-se comparar a colocação do florentino em relação ao tratamento aos homens.  Maquiavel deixa claro no capítulo terceiro, que o príncipe  deve oferecer um bom tratamento aos homens ou então estingui-los, significa que, comparando a postura de Geisel e Couto e Silva, usando deste método para consolidação do poder, fica evidente que eles não estavam temerorosos com possíveis reações da população brasileira da mesmam forma que o Príncipe não teme a vingança de seus súditos. (O Príncipe, pág 37).
          Porém, se atentar-nos as colocações anteriores, veremos então que a força bruta e a frieza são essenciais para este tipo de conquista com crueldade. No caso, como a tortura foi algo característico do príncipe que é mais odiado do que querido, pois fazendo este comparativo com Maquiavel, o domínio do

Estado pelos militares nada mais fez com que aumentar o ódio da população, e o mesmo pode ser comparado com os súditos.
        Da mesma forma, podemos ressaltar o que é exposto pelo filósofo italiano em sua obra em se tratando de injúrias com o povo, o príncipe deve zelar pelo mesmo, pois, o poder e a força está com ele e não diretamente com o soberano, da mesma forma, apesar dos militares estarem comandando o Estado brasileiro, o poder estava nas mãos do povo. E na mesma forma que na obra maquiaveliana, esse mesmo povo que tem o poder de exaltar o soberano, no caso os militares, tem o mesmo poder de retirá-lo. Isso ocorreu de fato na ditadura militar, pois da mesma forma que em Maquiavel, o povo já estava injuriado e ele mesmo queria o fim da ditadura.
          Porém, como na obra O Príncipe, especificamente no capítulo oitavo, que se trata da crueldade sendo realizada de uma vez só pelo soberano, para depois o bem ser realizado aos poucos, para que o soberano conquiste a amizade dos súditos, pode ser comparado com a atitude do presidente Geisel com O Príncipe maquiaveliano, que no começo e no fim da ditadura apoiou os atos de crueldade mas durante seu governo, realizou obras que, se olharmos com um pouco mais de atenção, foram realizadas para o povo (súditos) para de certa forma camuflar a crueldade por detrás das ações e assim ser querido pelo povo.
        Assim, a tortura, juntamente com a força bruta e a frieza foram os elementos primordiais e as marcas camufladas pelos seus feitos para com o povo deixadas por Geisel em seu governo. Apoiado por Couto e Silva, reprimiram o Estado; como em Maquiavel, usaram da crueldade para conquistar e manter seu poder mas fizeram com que o povo (súditos) os odiassem e assim, o mesmo povo que tem o poder de levantar alguém é o mesmo que pode derrubar devido as ações negativas do soberano, no caso, a postura de Geisel em seu governo. Apesar de aparentemente estar do lado do povo, o medo era o maior aliado do presidente e da Ditadura Militar.



 O JUIZ (O Povo)
   O que mais está presente em um poder que vem de outrem seria o poder do povo. Se observarmos tanto na ditadura quanto na época de Maquiavel, é que as regras por mais impostas que sejam por algum soberano só serão validadas de acordo com a vontade do povo. No caso da ditadura, ela foi praticamente instaurada pelo medo através dos militares e isso proporcionou ao país uma certa reflexão em relação ao governante tanto que o povo foi contra a ditadura e anceram pela república.
     O povo, tem o seu papel primordial na ditadura, pois com essa experiência, o mesmo instaurou a república e comparado a obra florentina, o mesmo povo que diretamente ajuda o soberano no alcance e manutenção do poder, é o mesmo que fica injuriado quando é ofendido e desacatado pelo soberano.
    Assim tanto no ensaio apresentado por Elio Gaspari, quanto no livro O Príncipe de Maquiavel, o povo é que indiretamente determina a manutenção do soberano no poder de acordo com suas ações, ele é o juiz, aquele que julga as ações do soberano para que dessa forma a nação possa ter o melhor desenvolvimento possível.

Considerações Finais
   Esperamos ter através deste trabalho ter conseguido explitar pontos relevantes da obra maquiaveliana com a ditadura militar brasileira, especificamente no período de Geisel e que assim possa ter ficado claro a presença do medo como forma de coação pela tortura na ditadura comparado ao principe maquiaveliano que usa da força para o mesmo fim.     

Referências:
GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada, Editora Schwarcz LTDA, 2004.
MACHIAVELLI, Niccolo. O Príncipe, Edições de Ouro, 1961. 

A VIRTUDE COMO ALIADA DO SOBERANO NA ARTE DA GUERRA



Eric Tadeu Miguel
Universidade Federal de São João Del-Rei
Orientador: Prof. Dr. José Luiz de Oliveira

Resumo: O trabalho a seguir tem como objetivo explicitar a virtude como aliada na arte da guerra segundo os apontamentos feitos por Nicolau Maquiavel, na sua obra “A Arte da Guerra”. A virtude seria a essência do homem, e ela no caso, é decisiva para que se possa obter a vitória em tempos de guerra, e em tempos de paz, seria necessária para manter um exército forte e organizado, e este exército seria justamente composto por homens governados por alguém que por meio de suas virtudes, os incentivem a ter gosto pelas atividades cotidianas. Assim, explicitaremos que a virtude é importante para quem comanda na arte da guerra justamente para cativar a infantaria e mantê-los leais ao soberano. 
Palavras-chave: Estratégia; Poder; Virtude.     

Considerações Iniciais
A obra realizada no século XVII, relata a realidade de sua época em um envolto marcado pela soberania e guerras. A Arte da Guerra nada mais é que estratégias militares utilizadas para a manutenção do soberano no poder. Para isso, é preciso que o mesmo apresente certas características mas a considerada crucial e apresentada nesse trabalho é a virtude, sem ela o soberano é capaz de governar, tão pouco entender a respeito de assuntos que referem-se à defesa de seu principado. Dessa forma, a virtude será apresentada e no desenvolvimento desse nosso trabalho será apresentado que ela é sim um verdadeiro aliado na arte da guerra, pois a mesma exige disciplina e sem a sua aplicação, é praticamente impossível obter qualquer virtude.

I. O Significado da Virtude
O significado da virtude na perspectiva de Maquiavel é algo importante para lidar com as formas de manutenção do príncipe no poder. Em abordagens  presentes em sua obra O Príncipe (1532), o autor florentino aponta que em termos de importância e sabedoria, o que um príncipe pode fazer é retornar ao passado, ou seja, a verdadeira prudência do homem está em tentar reproduzir a maneira de como os grandes homens procediam para que assim ela possa agir da mesma forma ou pelo menos se aproximar da maneira apropriada para atinjir o objetivo esperado. Trata-se de esclarecer nesse caso, sobre a importância e o alcance da permanência do soberano no trono conquistado (MAQUIAVEL, 1961, p. 53).
            A virtude estaria no valor pessoal que o príncipe possui, bem como em suas características na condição de homem e líder. O príncipe deve almejar chegar a tal posição, afinal ele não chegou à mesma por mero acaso; pois para assumir tal responsabilidade, ele deve realmente estar preparado. Tal preparação consiste em estudar sobre a história que envolveu os grandes homens. Dessa maneira, deve o príncipe inspirar nos feitos desses grandes homens para encontrar-se em seus valores. Nas palavras de Maquiavel (1961):
Um homem prudente deve assim escolher os caminhos já percorridos pelos grandes homens e imitá-los; assim, mesmo que não seja possível seguir fielmente êsse caminho, nem pela imitação alcançar totalmente a virtude dos grandes, sempre se aproveita muita coisa. (...) E porque o fato de elevar-se alguém a príncipe pressupõe valor ou boa sorte... é comum observar que muitos que foram menos afortunados se mantiveram mais tempo no poder. (54)
 
                Percebe-se que de acordo com o posicionamento de Maquiavel, a verdadeira virtude está no esforço do retorno ao passado, na apreenção das atitudes dos grandes homens tidos como virtuosos. O posicionamento do príncipe é o de fazer o possível para desenvolver e aproveitar  ao máximo os ensinamentos estudados para que estes façam parte da sua essência de soberano. Tal medida constiui um valor ,no momento em que se leva em conta as dificuldades enfrentadas por um homem antes dele alcançar tal posição. Sua probabilidade de se manter no poder é muito maior pelo fato do príncipe ter passado por vários tipos de situações e ter conseguido encontrar uma solução para cada uma delas de modo particular.
            Assim, o significado de virtude é inerente ao valor pessoal do soberano. Temos aqui um tipo de valor que estaria sendo almejado por meio da imitação do comportamento dos grandes homens. Nesse caso, a virtude seria relevante para a efetivação da arte da guerra. Para que possamos vislumbrar de maneira correta a relação entre a virtude e a arte da guerra, precisamos primeiramente explicitar seu significado, de acordo com o viéz da interpretação maquiaveliana.   
   
II - O que é a Arte da Guerra

            A vida militar, segundo as manifestações de Nicolau Maquiavel, seria uma vida regrada, exigente, totalmente diferente da vida civil e do senso comum. Durante muito tempo, o que mantinha a ordem nas instituições  era o apoio militar, pois a confiança que é depositada naqueles que juraram se dedicar à sua pátria é bastante significativo. A vida militar pode ser apontada como temor a Deus, afinal, são muitos os  perigos que envolvem a vida de um soldado. A vida militar pode ser coonsiderada também como ato de amor, pois, o soldado ao realizar os exercícios militares, demonstra com essa atitude que está disposto a manter a paz em sua pátria, enfrentando a guerra.         (MAQUIAVEL, 1987).
Percebe-se que  para o exercício da arte da guerra, é preciso uma rigorosa disciplina. Por essa razão, se observarmos na obra A Arte da Guerra, nela se explicita que se houver imitação das atitudes dos antepassados, pode-se garantir o futuro da pátria, pelo contrário ela pode estar ameaçada por causa da deturpação dos costumes e isso pode levar a pátria à derrota. Sobre isso, em termos maquiavelianos:
Seria melhor imitar os antigos nas coisas fortes e duras... em vez de fazê-lo no que é delicado e suave. Imitá-los no que faziam ao sol e não a sombra. Seguir o costume dos antigos de modo genuíno, não de maneira falsa e corronpida, pois quando assim agiram os romanos levaram a pátria à perdição. (20)
 Depreende-se que a reprodução das virtudes realizadas pelos ancestrais e estas sendo boas e claras, devem continuar sendo adotadas para o bem e manutenção da pátria. No caso, as virtudes que se assemelham às virtudes dos antigos seriam, a honra, a coragem, a aceitação da pobreza, o amor mútuo e a instituição militar, além de prezar pelo interesse público (MAQUIAVEL, 1987, p. 21).
            Na arte de executar a guerra, observando de uma maneira mais precisa, a virtude seria a preparação para a realização da guerra e esta teria que ser feita de forma que os olhos alheios enxerguem. As virtudes citadas anteriormente são válidas,  justamente pelo fato de serem explícitas, uma vez que na realização da guerra expor tais virtudes é algo relevante. Se não houver real preparo para tal ação e as coisas forem feitas  de forma escondida, haverá desleixo acarretando segundo a abordagem maquiaveliana “carência da ação” e a falta de preparo. A consequência de tudo isso pode ser o não êxito da tão almejada ação. (MAQUIAVEL, 1987, p. 22)    

III - A Estratégia
            Nos tópicos anteriores foram colocados o significado de virtude e sua importância para Maquiavel e com pontos ressaltados, pôde ficar ainda mais clara estas questões acerca da virtude. O que faz realizar-se no príncipe este princípio de virtude? Como foi ressaltado, ela é muito importante para a conquista e manutenção do soberano no poder, porém, o que será exposto nessas linhas é a maneira de como isso acontece, afinal, o pensador ao escrever essas obra, expressou principais pontos considerados relevantes e que estão relacionados à conquista do poder e sua manutenção.
            O que faz o soberano ser o que ele é realmente são suas atitudes. No caso, elas provém obviamente. Contudo, é preciso também acrescentar atitudes virtuosas que deram certo no passado ou seja, o príncipe por meio de um “estudo”, procura buscar para si todas as virtudes possíveis dos grandes soberanos. Ora, ao realizar este feito, o príncipe mostra de certa forma sabedoria porque ao investigar o passado dos grandes homens escolherá para si as virtudes que devem ser adotadas ao seu comportamento, para assim realizar atitudes consideradas virtuosas e manter-se no poder (Maquiavel, p. 53).
             Assim, a estratégia da arte da guerra usada pelo soberano seria o recurso a este retorno ao passado para imitar homens virtuosos e com isso, ser de fato o homem adequado para a conquista e permanência em seu posto auxiliando as tropas na arte da guerra.

Considerações Finais
        Acreditamos ter conseguido expor nestas breves linhas o significado da virtude, a sua importância segundo Maquiavel, pois imitar os grandes homens é primordial para a apreensão de virtude, principalmente no que diz respeito à virtude necessária à arte da guerra. Trata-se de um  significado, que segundo o filósofo, é um ato de amor pois quem a pratica está disposto a morrer por sua pátria e também levar em conta a disciplina. Isto é a vida totalmente regrada de quem se dedica as artes militares.
            Evidencia-se que para Maquiavel, a estratégia no caso seria o estudo das virtudes dos grandes homens e aplicá-las no exercício da arte da guerra. Dessa maneira, o desenvolvimento do príncipe tende a obter sucesso, pois sem a virtude da disciplina não tem como haver a execução das artes militares.

Referências
MACHIAVELLI, Nicolò. “O Príncipe”. Trad. Lívio Xavier. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1960.
MACHIAVELLI, Nicolò. “A Arte da Guerra”. Trad. Sérgio Bath. Brasília: 3ª Edição, Editora universidade de Brasília, 1982.
  


segunda-feira, 14 de agosto de 2017

A Relação governante e povo na perspectiva de Maquiavel

Eric Tadeu Miguel
Universidade Federal de São João Del-Rei
Email: arcanjosmith@hotmail.com
 Orientador: Professor Dr. José Luiz de Oliveira

Resumo: Este trabalho tem como objetivo explicitar a relação governante e povo segundo as abordagens feitas por Nicolau Maquiavel, no livro “O Príncipe”(1532). Analisando cada capítulo, obtêm-se  uma base de explicação sólida e concisa para se chegar a uma conclusão de como ocorre esta relação. A mesma acontece a partir do momento em que o governante deixa clara a sua autoridade, independente da maneira que ira fazê-lo, sendo uma relação de certa forma opressiva, assim, esta relação ocorrerá por meio do medo imposto pelo governante.  
Palavras-chave: Relação, Governante, Povo, Perspectiva, “O Príncipe”, e Maquiavel.


La relación de gobierno y personas en Perspectiva Maquiavelo
Resumen: Este artículo tiene por objeto aclarar la relación y las personas que gobiernan de acuerdo con los planteamientos hechos por Nicolás Maquiavelo en su libro "El Príncipe" (1532); el análisis de cada capítulo, se obtiene una base de explicación sólida y concisa, para llegar a una conclusión en cuanto a cómo se produce esta relación. Lo mismo ocurre desde el momento de la sentencia deja claro su autoridad, independientemente de la forma en que lo harán, al ser una relación, de alguna manera opresiva; por lo tanto, esta relación se producirá a través del miedo impuesto por el gobernante.
Palabras clave: relación; gobernante; Personas; Perspectiva; "El Príncipe"; Maquiavelo.

The Governing Relationship and People in Perspective Machiavelli
Abstract: This paper aims to clarify the relationship and ruling people according to the settings made by Niccolo Machiavelli in his book "The Prince", explaining each chapter has a sound basis and concise explanation for reaching a conclusion as to how this relationship occurs. The same happens from the moment the ruling makes clear its authority, independent of the way they will do it, with a list of some oppressive form, so this relationship will occur through the fear imposed by the ruler.
Keywords: Relationship, Ruler, People, Perspective, "The Prince", and Machiavelli.

Considerações Iniciais

    A obra realizada no século XVII, vem  relatando a realidade de sua época em um envolto marcado pela soberania e guerras. A política nada mais era que uma conquista de um trono através do poder armado e organizado ou da pura e simples ancestralidade, mas o que garantiria qualquer uma destas conquistas seria a percepção do príncipe em relação ao modo de vida do povo, podendo através desse trabalho explicitar a relação governante e povo que acontece através do mal causado pelo mesmo para a manutenção de seu poder.

 Características do Governante
   É preciso salientar que em termos maquiavelianos, para o governante, tudo o que se refere à guerra está em seu favor porque trata-se de situações que o faz mantê-lo no poder. O governante representado na figura do príncipe preocupa-se com as armas, pois somente com elas é possível a manutenção do poder. O soberano, uma vez não sabendo o que faz, fica desacreditado de seus soldados. O que o verdadeiro governante faz na perspectiva de Maquiavel  é praticar a arte da guerra, principalmente em tempos de paz por meio da ação, que além de manter os soldados disciplinados, praticará exercícios que o fortificarão fisicamente e também fará com que ele conheça bem o lugar que habita e suas dominações. A arte da guerra praticada também em pensamento ajuda de uma maneira incomensurável a fazer com que o governante pense em situações reais e dessa forma, encontrar soluções para as mesmas nos tempos de guerra. Sobre isso, ressalta Maquiavel (1452) :
                            Filopemenes, príncipe dos Aqueus... nos temos de paz...pensar em coisa de guerra.Quando passeava com os amigos... os interrogava: se os inimigos estivessem sobre aquele monte, e não estivéssemos aqui, com nossos exércitos quem teria maiores vantagens? Como se poderia ir ao seu encontro, observando a nossa formação? Se nos quiséssemos retirar, como deveríamos fazer? Se eles se retirassem como faríamos para segui-los? Enfim, formulava todas as hipóteses que podem ocorrer em campanha, ouvia-lhes a opinião, dava a sua...de modo que quando estava a frente dos exércitos, nunca surgiu  um acidente que ele já não tivesse previsto... (99)

   Percebe-se que por meio de suas reflexões o governante, através de suas reflexões sobre a arte da guerra, o governante formula situações e ao mesmo tempo soluções para elas. Poderia ele garantir uma probabilidade muito maior à sua vitória, por exercitar situações que poderiam realmente acontecer. Na prática, o príncipe encontra soluções para a arte da guerra em defesa, manutenção e vitória de seus exércitos. (Maquiavel, 1960).
   Nessa reflexão, há também um fator muito importante que se baseia no campo que seria da historicidade. Para Maquiavel(1452) o soberano deve aprender com os exemplos de grandes homens. Este aprendizado é em relação ao significado de prudência pois ela está justamente em “considerar as ações de grandes homens, observar como se conduziram na guerra, examinar as razões de suas vitórias e derrotas... (99). Desta forma , o governante ou o príncipe pode avaliar as situações com ele ocorridas de uma forma sábia e toma para si a práxis para saber lhe dar melhor com as contingências.
   Podemos dizer em outras palavras que uma arte da guerra é estudar a história de grandes homens para que apreendendo exemplos de conquista ele possa sempre estar sendo conduzido para a vitória. Ao se referir ao louvor ou vituperidade ao príncipe ou governante, Maquiavel está explicando a forma de como o mesmo deve se comportar com os súditos e seus amigos. E para tal, usará a forma real de como o governante deve comportar-se e não como deveria fazê-lo. Sobre isso Maquiavel (1960) afirma:
Vai tanta diferença entre o como se vive e o modo por que se deveria viver, que quem se preocupar com o que deveria fazer em vez do que se faz, aprende antes a ruína própria; e um homem que quiser fazer profissão de bondade é natural que se arruíne entre tantos que são maus (101)
   Nota-se em sua abordagem, Maquiavel evidencia que uma das atitudes do príncipe ou governante é estruturar seu modo de vida no presente. O pensador da renascença realça a vida como ela é realmente. Iludir-se em pensamentos sobre o modo de vida, seria um erro, pois o governante cria algo que não existe. Nesse sentido percebe-se que uma das características do governante é agir de forma contrária à bondade pois o mal realizado seria válido quando necessário. Usar o mal dessa forma seria para a manutenção do poder do soberano (101).
   Mas o que faz um governante ser louvado ou censurado são suas qualidades apresentadas diante das pessoas que se encontram sob seu domínio. Para Maquiavel (1960) o governante pode ser explicitado das seguintes  maneiras:
Isto é, alguns são todos como liberais, outros como  miseráveis...alguns são tidos como pródigos, outros como rapaces; alguns são cruéis e outros piedosos; perjuros ou leais;efeminados e pusilâmines ou truculentos e animosos; humanitários ou soberbos; lascivos ou castos; estúpidos ou astutos; enégicos ou indecisos, graves ou levianos;religiosos ou incrédulos, e assim por diante (102).
   Dessa forma, Maquiavel deixa claro que o que compõe a reputação do príncipe são suas qualidades. Mas, a característica principal para a manutenção do príncipe no poder seria a maldade, pois por meio dela, o soberano pode garantir-se entre outras pessoas que também são más.
     Contudo, para a realização da maldade e para a manutenção de seu poder é preciso a prudência para que não haja exagero em seus atos e todas as qualidades que ele possa construir, favoreceriam ao governante para a continuidade de seu governo.
    Para o pensador renascentista da política algo seria deixado evidenciado “pode-se deixar que as coisas sigam seu curso natural” porque como o príncipe é um ser humano, é preciso que ele seja disciplinado para que saiba lhe dar de forma sábia com algum defeito que possua.
   Em sua exposição, mais uma outra característica é ressaltada, segundo Maquiavel, evitar ao máximo possível de gastos para que não tenha necessidade de tirar de seus súditos. E também possuindo a parcimônia, o governante pode garantir a defesa de seus domínios. Portanto, a característica de miserável acarrreta nos súditos nem ódio e nem amor ao soberano, mas sua popularidade. Desta forma a possibilidade de receita no reino seria bem maior e esta atitude seria considerada prudente.    

 O que é o povo na visão maquiaveliana

   Na época do filósofo italiano, o povo seria um conjunto da massa que deveria  se sujeitar ou não de acordo com a forma de conquista do principado. Para tal, é preciso uma estrutura política, militar e religiosa bem organizada por parte do governante e todos que com ele colaboram para sua manutenção no poder.                                                          
   Pois o que caracteriza  a união de um povo  é justamente o poder que possui para fazer permanecer ou não um príncipe no poder. Mas na época, muitos  eram coagidos através do medo ou as pessoas eram coagidas através da bondade, uma realização de  ação que possibilitasse ao súdito ter uma certa importância para a coroa.
   O povo é o maior colaborador para  ascensão ou declínio de um governo independente de sua característica,  seja ele totalitário, absolutista, ou republicano, as massas sempre terão esse papel de suma importância que seria a manutenção ou não de alguém no poder.
   O poder que se é adquirido é percebido pelo povo como algo positivo, pois só de colocarmos que há uma determinada forma de governo, está afirmando-se que esse povo não teria uma opção de escolha já que, não pode-se haver uma outra possibilidade. Infelizmente deve-se realizar a vontade que é exposta pelo soberano que é a de colocar toda a massa sobre seu controle.
    Na verdade o que é mais preocupante dentro deste contexto apresentado por Maquiavel, seria a passividade demonstrada por todos aqueles que fazem parte de qualquer regime. Olhando com mais afinco as observações de Maquiavel, pode-se de forma bem clara, observar que a característica mais marcante em todo esse processo seria a falta de esclarecimento pois,  para época, o único esclarecimento tido como verdadeiro era o esclarecimento exposto através da fé religiosa? Sendo qualquer atitude contrária a esse esclarecimento, poderia significar a morte ou alguma outra atitude severa que poderia ser usada como exemplo para desmotivar qualquer pessoa que for contrária ao soberano, na época a igreja católica  e governo andavam de mão dadas, isso facilitaria muito no controle das massas.
    A educação  era algo restrito ao povo; afinal o soberano que representa Deus na terra não pode ser contrariado,  a manutenção deste paradigma, prejudicou  muito o desenvolvimento cognitivo das massas,  pelo fato do  povo ser privado ao conhecimento, tanto que é mais favorável tê-los como ignorantes do que proporcionar uma chance de esclarecimento; o povo seria  toda essa massa e por mais que ocorram mudanças no governo, toda e qualquer ação será, repito, para a manutenção do príncipe no poder, por mais querido ou odiado  que ele seja,  mas para tal realização é preciso sempre a   aprovação do povo, sem ela fica muito mais difícil a obediência deste povo para com o soberano.
    Mas se tratando em relação ao povo, o comentador Newton Bignotto aponta no capítulo segundo de sua obra Maquiavel Republicano que a questão da liberdade é algo que pode ser consideravelmente importante, porém como a questão da liberdade esta ligada ao povo na visão do comentador dentro da obra O Príncipe?
    A resposta seria simplesmente que; a liberdade para o povo dentro da visão  maquiaveliana explicitada na obra de Newton Bingnotto, seria o domínio do soberano sobre seu povo, ou seja, o povo nada mais é que a expressão de grandeza do soberano, encontrando no domínio do mesmo a sua liberdade.
    Apesar de possuir elementos que pudessem possibilitar a sua liberdade diante das imposições do príncipe, durante vários séculos, o povo de certa forma sentiu  necessidade de estar sob domínio de alguém, e este só acontece  por causa de transferência de responsabilidade da maioria do povo para as mãos do soberano. Assim, na visão de Maquiavel, o povo seria este aglomerado de pessoas  que está para atender os desejos do soberano apesar de que, o soberano só domina o principado de fato tendo o feito através da força e de forma digna ganhando a admiração ou pela força de modo hereditário ou através do medo.
    Mas na observação de Newton Bignotto, o povo é realmente livre de acordo com as colocações e imposições do soberano, ou seja, o povo não está em sua terra para ser livre de fato.   

 Como acontece a relação entre governante e povo

    Segundo os dois tópicos anteriores, o primeiro explicita as características do governante que seriam, na colocação maquiaveliana a prática da arte da guerra em tempos de paz, formulando situações para encontrar soluções para elas, aprender os exemplos dos grandes homens para que o príncipe saiba lhe dar melhor com as situações, colocou também que é mais vantajoso ser mal do que bom pelo fato de estar cercado de homens maus (101).
   Um outro ponto importante apresentado no primeiro tópico são as qualidades que ele possúi, por que através delas é que se podem manter um príncipe no poder (Maquiavel, 1960), mas uma das características que são primordias é a parcimônia que seria evitar gastos ao máximo em seu principado, essa característica somente aumenta a popularidade do Príncipe.
   Já no segundo tópico que refere-se ao povo. Pode-se colocar como significado que o povo é o conjunto de pessoas sob o domínio do príncipe, porém para manter o povo sob seu controle, a educação obviamente é algo restrito, justamente para que o povo não fosse capaz de pensar por si só e dessa forma a liberdade do povo se encontra na opressão do soberano como foi apresentado neste tópico.
  O que explicitaremos nesta última parte será como ocorre esta relação entre o governante e povo, a partir dos significados de ambos, apresentados anteriormente na perspectiva maquiaveliana.
   Podemos perceber que esta relação governante e povo estará obviamente mais favorável ao governante devido as características que possuem, como segue:
E, entre todos os príncipes, os novos são os que menos podem fugir a fama de cruéis, pois os Estados novos estão cheios de perigos(107)...portanto, crédulo o príncipe e nem precipitado e não deve amendrontar-se a si próprio, e proceder equilibradamente, com prudência e humanidade, de modo que a confiança demasiada não o torne incauto e a desconfiança excessiva não o faça intolerável.(108).
    Percebe-se que o governante apesar de todos os perigos que o cercam, deve agir de forma equilibrada em tudo o que for realizar para que dessa maneira, tenha uma relação harmoniosa com os súditos.
    Mas para que tal relação possa se realizar, qual a seria a melhor maneira do governante se comportar? Através da colocação abaixo seja possível esclarecer tal questionamento:
Responder-se-á que... é muito mais seguro ser temido que amado, quando se tenha que falar numa das duas. É que os homens geralmente são ingratos, volúveis, simuladores covardes e ambiciosos de dinheiro, e, enquanto lhes fizerem bem, todos estão contigo... desde que a necessidade esteja longe de ti. Mas quando ela se a vizinha,voltam-se para outra parte...Pois as amizades conquistadas por interesse e não por grandeza de caráter, são compradas, mas não se pode contar com elas no momento necessário.(108).
    O que ocorre de fato segundo as colocações de Maquiavel é que devido as características que o homem possúi e de acordo com seu tempo, o comportamento mais viável para a manutenção do príncipe no poder é que ele seja temido, justamente por causa da maldade que a ele o cerca e dessa forma pode lidar melhor com ela.
     Afinal o que é explicitado pelo filósofo florentino é que, o que ocorre entre o governante e o povo é justamente uma relação de interesse, pois se alguém, no caso o príncipe, não puder atender aos intentos dos súditos, não tem motivo sua manutenção no poder.               
     O que fica nitidamente claro é que enquanto o governante puder atender os interesses de suas amizades, elas estarão sempre com ele, mas o que é explicitado na posição maquiaveliana é que as amizades devem ser conquistadas através do medo, para que assim elas atendam aos desejos do governante em algum momento de desamparo.
   Portanto o medo é algo importante nessa relação. Se por ventura o príncipe não seja querido ou estimado o que deve ser ressaltado com veemência é que, o ódio por parte dos súditos deve ser evitado, pois sendo temido, se precisar tomar uma atitude mais drástica como derramar o sangue de alguém, terá justificativa (Maquiavel,109).
    Na relação entre ambos, a palavra é algo de grande relevância juntamente com a força, porém é preciso saber como empregá-las para que assim dure o seu poder o máximo possível. No caso, a qualidade de raposa é muito apropriada segundo Maquiavel, pois dessa forma o príncipe precisa de astúcia para saber simular e dissimular, pois nem sempre cumprirá com a palavra dada a menos que não o prejudique(112).
    Mas uma das características que marcam essa relação na visão do filósofo político é o príncipe aparentar ser algo que ele não é pois “os homens em geral julgam mais pelos olhos do que pelas mãos”(113). Na relação governante e povo a aparência do governante é muito importante para a manutenção do seu poder, ou seja aparentar possuir determinadas características mesmo não as tendo para a manutenção de seu poder.
  Assim a relação entre ambos ocorre principalmente através da aparência e do medo.    
Considerações Finais
   Acreditamos que foi possível esclarecer o significado e as características do governante, enfatizando-as e apresentando seu conteúdo, que seria a prática da arte da guerra, usar a maldade de forma adequada, a parcimônia, e a imposição do medo principalmente garantiria de certa forma o seu poder.
    Percebe-se que na relação colocada que, o povo sempre está sendo controlado por este poder patriarcal, e dessa forma, a liberdade do povo está no domínio do governante. Assim, o medo e a passividade são as coisas principais que ocorrem na relação governante e povo.

Referências
 MACHIAVELLI, Nicolò. “O Príncipe”. Trad. Lívio Xavier. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1960.
BIGNOTTO, Newton. “Maquiavel Republicano”. Loyola, São Paulo, 1991.
               

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Trabalho sobre o Filósofo Espinosa





Universidade Federal de São João Del- Rei



História da Filosofia Moderna I


Professor João Bosco


Baruch Espinosa e seus principais temas





Eric Tadeu Miguel








Espinosa e alguns de seus temas principais

  O seguinte texto tem como objetivo abordar de uma forma crítica o sistema monista/panteísta e imanentista de Baruch Espinosa partindo de temas como substância, atributos e modos, a expressão Deus sive Natura, a manifestação intelectual em relação ao criacionismo e ao dualismo cartesiano, a liberdade e a servidão, conhecimento, necessidade e liberdade, os três graus de conhecimento, livre arbítrio, paixões e ação, a representação sobre a subespécie aeternitatis, crítica ao antropomorfismo, as superstições, ao medo e a ignorância, a relação corpo e alma, alegria, desejos e paixões, a expressão do realismo homo sapiens demens, crítica a idéia de bem e mal, autoritarismo, Estado e religião, potência, felicidade, beatitude, e o sentido do amor intelectos dei, opensamento complexo e sua influência no pensamento coetâneo. Todos os temas citados, foram abordados na obra de Espinosa “ Etica mostrada a maneira dos geômetras e nos textos; Spinoza e o problema da liberdade escrito por Regina Schopke; O conhecimento do conhecimento: a filosofia de Baruch Espinosa e o pensamento complexo, de Humberto Mariotti; O conatus de Spinosa: auto conservação ou liberdade? Escrito por Rafael Rodrigues Pereira; Paixão, ação e liberdade em Espinosa, de Milena Chauí; As definições  de causa sui; substância e atributo na Ética de Benedictus de Spinoza, feito por Emmanuel Angelo da Rocha Fragoso, e a palestra proferida por Cláudio Ulpiano.
  O filósofo nasceu na Holanda(1632 – 1677), criando um sistema monista/ panteísta sendo crítico da religião. Para ele, Deus é o sistema que compõe a realidade, levando seu racionalismo ao absoluto, o Deus de Espinosa é um Deus racional, desta forma, valoriza a geometria escrevendo suas obras como se estivesse fazendo um cálculo.
Com a concepção de um Deus racionalista, acontece uma abertura para o nascimento das ciências particulares como a aritimética por exemplo, Deus passa a ser o problema relevante do racionalismo moderno, isso faz com que o Deus de Espinosa se diferencie do de Descartes por que, recorre-se a uma causa primeira para explicar a realidade e não partindo do homem para Deus, assim, Ele é um Deus criador no ponto de vista cartesiano, ao qual Espinosa é contra esta concepção de criacionismo que será esclarecida no decorrer do texto.
  O filósofo éum areligioso e muito profundo em seus questionamentos sendo o maior livre pensador existente. Ele era judeu mas, depois “libertou-se” justamente por causa da sua forma livre, singular e convicta de pensar.
  Espinosa inicia sua Ética partindo de Deus para o homem, que ao contrário de Descartes, parte do homem para Deus, assim, as definições de substância de ambos os filósofos tem uma certa divergência; para Espinosa Deus é uma única substância e para Descartes, Deus e todos os outros seres são compostos de substância, não obstante, o que reforça o argumento na concepção espinozista é de que, sendo Deus uma só substância, ela existe e é concebida em si, assim, não seria lógico dizer que o homem também é composto de substância por que, se assim o fosse, o homem conceberia a si próprio, como não foi-lhe atribuída tal capacidade, Deus é este ser que concebe-o e a todas as coisas.
“(...) Toda substância é necessariamente infinita” e “afora Deus, não pode ser dada nem concebida nenhuma outra substância”
B.Spinoza, Ética I, Proposição VIII, Proposição XIV
Significa que, nada existe fora da totalidade, pois ela é o próprio real, as coisas são em Deus, então o filósofo coloca que:
 “Por Deus entendo o ente absolutamente infinito, isto é, uma substância que consta de infinitos atributos, onde cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita”
 Definições V
Deus então é causa de si, desta forma, a essência envolve necessariamente a existência pois, quando se causa, ela já é. Com isso, a questão de um Deus criador cai por terra porque, segundo a colocação da autora Regina Schopkesobre o posicionamento de Espinosa, há um só Deus, pois, se é colocado que Ele criou o mundo do nada significa que, existe Deus e o nada, logo, Deus seria limitado por uma outra coisa  e se assim o fosse, Ele não seria um ser absoluto e onipotente. A Totalidade, este ser que é Deus, é um ser produtor, que se autoproduz, sendo Ele causa de si ou seja, “causa sui”, dessa forma, Deus é pura potência, logo, independente da sua vontade, Ele age de acordo com a sua natureza, que é a de se autoproduzir e ao fazê-lo, produz o mundo e as outras coisas; por causa dos fatores colocados acima, Deus não tem livre-arbítrio.
  Em relação a atributos, a autora do primeiro texto, deixa claro o significado segundo Espinosa, o que é e o que constitui essencialmente a substância, e no caso, conhece-se dois destes atributos infinitos; o pensamento e a extensão. Os atributos são afecções da substância ou seja, de Deus, que cada um deles de forma particular se mostra como é, isso seria a expressão da essência divina. Os modos são a expressão dos entes particulares da essência da substância, ou seja, o homem é um modo de Deus pelo fato de, assim como as outras coisas existentes, possui características particulares da essência divina, então a expressão ”Deus sive Natura” (Deus, isto é, a Natureza) significando no texto dois que este Deus é a própria Natureza e todas as coisas que nela estão, por isso se trata também de um pensamento naturalista.
  Tanto no primeiro artigo(Regina Schopke) quanto no segundo(Humberto Mariotti), a significação sobre Natureza Naturante e Natureza Naturada são as mesmas: a Natureza Naturante seria a substância e seus atributos, e a Natureza Naturada seria constituída pelos seus modos, estes que anteriormente foram explicitadas a sua significação.
  Para Espinosa, as coisas estão necessariamente relacionadas umas com as outras, com isso, ele critica o dualismo cartesiano que seria a separação de algumas coisas, nesse caso seria a separação do corpo e alma, porém na tese do filósofo holandês, não há dominação de um sobre o outro, tendo ambos a mesma importância. Na colocação feita por Regina Schopke, Espinosa conclúi que o que destrói o nosso corpo não pode existir nele e nem em Deus, enquanto ele tem idéia do nosso corpo, então seria pertinente perguntar: Se tudo que existe, existe em Deus, por que existem coisas que prejudicam o corpo sendo que, todas elas fazem parte da existência naquilo que é imanente?Em relação a alma, Espinosa coloca que ela é a idéia do corpo e de si própria, a mente é uma idéia, ou seja, idéia de seu corpo e dela mesma, com isso, alma e o corpo são singulares e eles se comunicam por que são impressões finitas originadas de Deus sendo dois atributos em estados iguais “compartilhando” efeitos de algum acontecimento; se algo acontece no corpo, reflete na alma e assim vice-versa.
  Em relação ao antropomorfismo, Espinosa se posiciona contra por que seria como se o homemquiesesse colocar Deus girando em torno dele, o filósofo também é contra o voluntarismo; Deus não castiga e nem perdoa, assim, o bem e o mal são criações humanas, por isso Baruch critica a questão dos dois, pois, a vontade de Deus já segue os meandros do conhecimento.
  Como visto anteriormente, Deus é causa suiou seja, causa de si mesmo e pode ser conhecida através da razão, o homem está incluído na Totalidade e é convidado a se colocar diante dela, o filósofo então frisa o pensamento complexo que será tratado mais adiante.
   Para Baruch existem três tipos de conhecimento: o sensível, o racional e o intuitivo. O primeiro é caracterizado pela imaginação e subjetividade, sendoeste inadequado, por que gera paixões á coisas externas e que escravizam. O segundo é o racional, abrangendo melhor as coisas não levando em conta o presente, o passado e o futuro, segundo o filósofo, o tempo é irreal, assim, a eternidade é ausência do tempo, tendo essa compreensão, o homem vê o mundo em termos de eternidade ou seja: vê o mundo como Deus vê que significa sub specieaeternitatis. O terceiro é o mais relevante de todos pelo fato de poder chegar a idéias adequadas, conhecendo suas causas, efeitos e ligações. O pensamento espinozista é reflexivo, levando a pessoa a uma auto-investigação que pensando o pensamento, consegue-se o conhecimento, o pensamento complexo seria então um diálogo entre a razão e as paixões, pensamento e sentimento com o objetivo de mudar nossa auto visão evisão do mundo, conhecendo a Totalidade, e as partes que a compõe e a interação entre elas.
  No artigo escrito por Rafael Rodrigues Pereira, o conatusé algo que já nasce dentro da pessoa, um instinto elevado, uma paixão pela existência buscando o auto aprimoramento. Com isso, quando eleposiciona-se em relação as paixões, Espinosa quer condenar as paixões que são contra o auto aprimoramento, como a tristeza por exemplo, assim, ele é a favor das paixões alegres, com contribuem para a perfeição do indivíduo, por isso a alegria é uma paixão que pode nos levar a este estado de perfeição
“Oconatus, portanto,parece remeter a um esforço de auto-conservação, ora de expansão e aprimoramento pessoal”...”a alegria como uma paixão pela qual passamos a uma perfeição maior...”
   Se o homem não fizer por onde buscar mais conhecimento, fica fadado a servidão. A liberdade está vinculada ao conhecimento. Sua própria existência é algo de criador, dar significado as coisas, o determinismo do homem é direcionado a fazer algo para conseguir alguma coisa. O finalismo, que é algo criticado pelo filósofo, é fruto da imaginação do homemou seja, o homem coloca Deus para trabalhar para ele, com essa posição o filósofo se mostra anti-cartesiano  por que aTotalidade não tem centro, o homem quer fazer as coisas girarem em torno de si, então o finalismo vai contra a determinação dos acontecimentos, este finalismo seria a ignorância das causas das coisas.
   Em primeiro lugar, tudo se entrelaça pela relação causal, em segundo lugar, o homem vive completamente no mundo da ilusão, achando que as coisas aconteçam de acordo com os desejos dele. Se não é colocado um relativismo no seu mundo, o homem se perde no meio das coisas, este quadro é construído, ou seja, pensa que aquele mundo é sólido, é um euconstruído com esforço que possa ser volátil para haver mudança  no quadro referencial; tudo é relativo, é permeável, flexível, e propenso a mudanças, é um eu junto com outros. Quanto mais o homem se adequa ao conatus, mais feliz ele é, sendo necessário aprofundar-se nos conhecimentos em geral. A idéia de milagre não é válida por que somos seres em Deus; o mundo é o que é, e não o que o homem quer que ele seja. Desta forma ele posiciona-se contra a superstição e a ignorância por que, quanto mais ignorância alguém tiver, mais ele será supersticioso podendo ser manipulado fácil mente por outra pessoa
  Em relação a  paixão e a ação, em partes, o homem é causa de sua sensações e desejos por causa das coisas exteriores a ele, sendo elas mais  fortes que seu interior,a ação  está relacionada a partir de alguma coisa sendo essa a concepção no século XVII, para ele, a alma é idéia do corpo  e ambas devem agir juntas no corpo.Estes formam alguns dos principais apontamentos colocados no artigode Marilena Chauí:
“(...) somos causa inadequada de nossos apetitese de nossos desejos... Sendo a alma idéia de seu corpo e idéia de si... será passiva juntamente com seu corpo, e ativa juntamente com ele.”
Paixão, ação e liberdade em Spinoza, p 4 e 5
Com isso autora do artigo deixa clara a união de paixão e ação por Espinosa, e a igualdade entre elas, algo que antes era impossível de acontecer por causa do pensamento fechado dos que antecederam o filósofo.
 Seu pensamento complexo tem influência muito forte sobre o pensamento contemporâneo, por que se o homem não tiver uma mente suficientemente aberta para dialogar consigo, ver a si próprio e de certa forma, encarar o mundo como ele é, não dará abertura ao conhecimento afinal, é muito importante na contemporâneidade, através do conhecimento é possível o homem se aproximar de Deus, tanto que Espinosa frisa a questão de se fazer ciência, descobrir as coisas que estão na Totalidade; o homem trabalha para isso usando a sua razão e fazendo-o de forma adequada, ele possui mais conhecimento, quanto mais conhecimento ele tiver mais próximo ele estará de Deus.
  Este texto não tem a pretensão de resumirpontos pricipais de sua obra, somente observá-los e fazer-nos pensar em sua postura imanetista e mesmo sabendo da complexidade dos assuntos que foram apontados, cada autor a sua maneira, coloca de forma singular a posição racionalista de Espinosa e algins pontos que acharam relevantes mas acima de tudo; é um filósofo que realmente presa pela alegria de viver, nas paixões que contribuem para o auto aprimoramento, mostrando através dos argumentos defendidos pelos autores dos artigos que é possível ser livre, feliz e esclarecido sem depender de superstições, tudo isto através do conhecimento e valorização das coisas dentro da imanência divina.