quarta-feira, 22 de maio de 2013

Trabalho sobre o Filósofo Espinosa





Universidade Federal de São João Del- Rei



História da Filosofia Moderna I


Professor João Bosco


Baruch Espinosa e seus principais temas





Eric Tadeu Miguel








Espinosa e alguns de seus temas principais

  O seguinte texto tem como objetivo abordar de uma forma crítica o sistema monista/panteísta e imanentista de Baruch Espinosa partindo de temas como substância, atributos e modos, a expressão Deus sive Natura, a manifestação intelectual em relação ao criacionismo e ao dualismo cartesiano, a liberdade e a servidão, conhecimento, necessidade e liberdade, os três graus de conhecimento, livre arbítrio, paixões e ação, a representação sobre a subespécie aeternitatis, crítica ao antropomorfismo, as superstições, ao medo e a ignorância, a relação corpo e alma, alegria, desejos e paixões, a expressão do realismo homo sapiens demens, crítica a idéia de bem e mal, autoritarismo, Estado e religião, potência, felicidade, beatitude, e o sentido do amor intelectos dei, opensamento complexo e sua influência no pensamento coetâneo. Todos os temas citados, foram abordados na obra de Espinosa “ Etica mostrada a maneira dos geômetras e nos textos; Spinoza e o problema da liberdade escrito por Regina Schopke; O conhecimento do conhecimento: a filosofia de Baruch Espinosa e o pensamento complexo, de Humberto Mariotti; O conatus de Spinosa: auto conservação ou liberdade? Escrito por Rafael Rodrigues Pereira; Paixão, ação e liberdade em Espinosa, de Milena Chauí; As definições  de causa sui; substância e atributo na Ética de Benedictus de Spinoza, feito por Emmanuel Angelo da Rocha Fragoso, e a palestra proferida por Cláudio Ulpiano.
  O filósofo nasceu na Holanda(1632 – 1677), criando um sistema monista/ panteísta sendo crítico da religião. Para ele, Deus é o sistema que compõe a realidade, levando seu racionalismo ao absoluto, o Deus de Espinosa é um Deus racional, desta forma, valoriza a geometria escrevendo suas obras como se estivesse fazendo um cálculo.
Com a concepção de um Deus racionalista, acontece uma abertura para o nascimento das ciências particulares como a aritimética por exemplo, Deus passa a ser o problema relevante do racionalismo moderno, isso faz com que o Deus de Espinosa se diferencie do de Descartes por que, recorre-se a uma causa primeira para explicar a realidade e não partindo do homem para Deus, assim, Ele é um Deus criador no ponto de vista cartesiano, ao qual Espinosa é contra esta concepção de criacionismo que será esclarecida no decorrer do texto.
  O filósofo éum areligioso e muito profundo em seus questionamentos sendo o maior livre pensador existente. Ele era judeu mas, depois “libertou-se” justamente por causa da sua forma livre, singular e convicta de pensar.
  Espinosa inicia sua Ética partindo de Deus para o homem, que ao contrário de Descartes, parte do homem para Deus, assim, as definições de substância de ambos os filósofos tem uma certa divergência; para Espinosa Deus é uma única substância e para Descartes, Deus e todos os outros seres são compostos de substância, não obstante, o que reforça o argumento na concepção espinozista é de que, sendo Deus uma só substância, ela existe e é concebida em si, assim, não seria lógico dizer que o homem também é composto de substância por que, se assim o fosse, o homem conceberia a si próprio, como não foi-lhe atribuída tal capacidade, Deus é este ser que concebe-o e a todas as coisas.
“(...) Toda substância é necessariamente infinita” e “afora Deus, não pode ser dada nem concebida nenhuma outra substância”
B.Spinoza, Ética I, Proposição VIII, Proposição XIV
Significa que, nada existe fora da totalidade, pois ela é o próprio real, as coisas são em Deus, então o filósofo coloca que:
 “Por Deus entendo o ente absolutamente infinito, isto é, uma substância que consta de infinitos atributos, onde cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita”
 Definições V
Deus então é causa de si, desta forma, a essência envolve necessariamente a existência pois, quando se causa, ela já é. Com isso, a questão de um Deus criador cai por terra porque, segundo a colocação da autora Regina Schopkesobre o posicionamento de Espinosa, há um só Deus, pois, se é colocado que Ele criou o mundo do nada significa que, existe Deus e o nada, logo, Deus seria limitado por uma outra coisa  e se assim o fosse, Ele não seria um ser absoluto e onipotente. A Totalidade, este ser que é Deus, é um ser produtor, que se autoproduz, sendo Ele causa de si ou seja, “causa sui”, dessa forma, Deus é pura potência, logo, independente da sua vontade, Ele age de acordo com a sua natureza, que é a de se autoproduzir e ao fazê-lo, produz o mundo e as outras coisas; por causa dos fatores colocados acima, Deus não tem livre-arbítrio.
  Em relação a atributos, a autora do primeiro texto, deixa claro o significado segundo Espinosa, o que é e o que constitui essencialmente a substância, e no caso, conhece-se dois destes atributos infinitos; o pensamento e a extensão. Os atributos são afecções da substância ou seja, de Deus, que cada um deles de forma particular se mostra como é, isso seria a expressão da essência divina. Os modos são a expressão dos entes particulares da essência da substância, ou seja, o homem é um modo de Deus pelo fato de, assim como as outras coisas existentes, possui características particulares da essência divina, então a expressão ”Deus sive Natura” (Deus, isto é, a Natureza) significando no texto dois que este Deus é a própria Natureza e todas as coisas que nela estão, por isso se trata também de um pensamento naturalista.
  Tanto no primeiro artigo(Regina Schopke) quanto no segundo(Humberto Mariotti), a significação sobre Natureza Naturante e Natureza Naturada são as mesmas: a Natureza Naturante seria a substância e seus atributos, e a Natureza Naturada seria constituída pelos seus modos, estes que anteriormente foram explicitadas a sua significação.
  Para Espinosa, as coisas estão necessariamente relacionadas umas com as outras, com isso, ele critica o dualismo cartesiano que seria a separação de algumas coisas, nesse caso seria a separação do corpo e alma, porém na tese do filósofo holandês, não há dominação de um sobre o outro, tendo ambos a mesma importância. Na colocação feita por Regina Schopke, Espinosa conclúi que o que destrói o nosso corpo não pode existir nele e nem em Deus, enquanto ele tem idéia do nosso corpo, então seria pertinente perguntar: Se tudo que existe, existe em Deus, por que existem coisas que prejudicam o corpo sendo que, todas elas fazem parte da existência naquilo que é imanente?Em relação a alma, Espinosa coloca que ela é a idéia do corpo e de si própria, a mente é uma idéia, ou seja, idéia de seu corpo e dela mesma, com isso, alma e o corpo são singulares e eles se comunicam por que são impressões finitas originadas de Deus sendo dois atributos em estados iguais “compartilhando” efeitos de algum acontecimento; se algo acontece no corpo, reflete na alma e assim vice-versa.
  Em relação ao antropomorfismo, Espinosa se posiciona contra por que seria como se o homemquiesesse colocar Deus girando em torno dele, o filósofo também é contra o voluntarismo; Deus não castiga e nem perdoa, assim, o bem e o mal são criações humanas, por isso Baruch critica a questão dos dois, pois, a vontade de Deus já segue os meandros do conhecimento.
  Como visto anteriormente, Deus é causa suiou seja, causa de si mesmo e pode ser conhecida através da razão, o homem está incluído na Totalidade e é convidado a se colocar diante dela, o filósofo então frisa o pensamento complexo que será tratado mais adiante.
   Para Baruch existem três tipos de conhecimento: o sensível, o racional e o intuitivo. O primeiro é caracterizado pela imaginação e subjetividade, sendoeste inadequado, por que gera paixões á coisas externas e que escravizam. O segundo é o racional, abrangendo melhor as coisas não levando em conta o presente, o passado e o futuro, segundo o filósofo, o tempo é irreal, assim, a eternidade é ausência do tempo, tendo essa compreensão, o homem vê o mundo em termos de eternidade ou seja: vê o mundo como Deus vê que significa sub specieaeternitatis. O terceiro é o mais relevante de todos pelo fato de poder chegar a idéias adequadas, conhecendo suas causas, efeitos e ligações. O pensamento espinozista é reflexivo, levando a pessoa a uma auto-investigação que pensando o pensamento, consegue-se o conhecimento, o pensamento complexo seria então um diálogo entre a razão e as paixões, pensamento e sentimento com o objetivo de mudar nossa auto visão evisão do mundo, conhecendo a Totalidade, e as partes que a compõe e a interação entre elas.
  No artigo escrito por Rafael Rodrigues Pereira, o conatusé algo que já nasce dentro da pessoa, um instinto elevado, uma paixão pela existência buscando o auto aprimoramento. Com isso, quando eleposiciona-se em relação as paixões, Espinosa quer condenar as paixões que são contra o auto aprimoramento, como a tristeza por exemplo, assim, ele é a favor das paixões alegres, com contribuem para a perfeição do indivíduo, por isso a alegria é uma paixão que pode nos levar a este estado de perfeição
“Oconatus, portanto,parece remeter a um esforço de auto-conservação, ora de expansão e aprimoramento pessoal”...”a alegria como uma paixão pela qual passamos a uma perfeição maior...”
   Se o homem não fizer por onde buscar mais conhecimento, fica fadado a servidão. A liberdade está vinculada ao conhecimento. Sua própria existência é algo de criador, dar significado as coisas, o determinismo do homem é direcionado a fazer algo para conseguir alguma coisa. O finalismo, que é algo criticado pelo filósofo, é fruto da imaginação do homemou seja, o homem coloca Deus para trabalhar para ele, com essa posição o filósofo se mostra anti-cartesiano  por que aTotalidade não tem centro, o homem quer fazer as coisas girarem em torno de si, então o finalismo vai contra a determinação dos acontecimentos, este finalismo seria a ignorância das causas das coisas.
   Em primeiro lugar, tudo se entrelaça pela relação causal, em segundo lugar, o homem vive completamente no mundo da ilusão, achando que as coisas aconteçam de acordo com os desejos dele. Se não é colocado um relativismo no seu mundo, o homem se perde no meio das coisas, este quadro é construído, ou seja, pensa que aquele mundo é sólido, é um euconstruído com esforço que possa ser volátil para haver mudança  no quadro referencial; tudo é relativo, é permeável, flexível, e propenso a mudanças, é um eu junto com outros. Quanto mais o homem se adequa ao conatus, mais feliz ele é, sendo necessário aprofundar-se nos conhecimentos em geral. A idéia de milagre não é válida por que somos seres em Deus; o mundo é o que é, e não o que o homem quer que ele seja. Desta forma ele posiciona-se contra a superstição e a ignorância por que, quanto mais ignorância alguém tiver, mais ele será supersticioso podendo ser manipulado fácil mente por outra pessoa
  Em relação a  paixão e a ação, em partes, o homem é causa de sua sensações e desejos por causa das coisas exteriores a ele, sendo elas mais  fortes que seu interior,a ação  está relacionada a partir de alguma coisa sendo essa a concepção no século XVII, para ele, a alma é idéia do corpo  e ambas devem agir juntas no corpo.Estes formam alguns dos principais apontamentos colocados no artigode Marilena Chauí:
“(...) somos causa inadequada de nossos apetitese de nossos desejos... Sendo a alma idéia de seu corpo e idéia de si... será passiva juntamente com seu corpo, e ativa juntamente com ele.”
Paixão, ação e liberdade em Spinoza, p 4 e 5
Com isso autora do artigo deixa clara a união de paixão e ação por Espinosa, e a igualdade entre elas, algo que antes era impossível de acontecer por causa do pensamento fechado dos que antecederam o filósofo.
 Seu pensamento complexo tem influência muito forte sobre o pensamento contemporâneo, por que se o homem não tiver uma mente suficientemente aberta para dialogar consigo, ver a si próprio e de certa forma, encarar o mundo como ele é, não dará abertura ao conhecimento afinal, é muito importante na contemporâneidade, através do conhecimento é possível o homem se aproximar de Deus, tanto que Espinosa frisa a questão de se fazer ciência, descobrir as coisas que estão na Totalidade; o homem trabalha para isso usando a sua razão e fazendo-o de forma adequada, ele possui mais conhecimento, quanto mais conhecimento ele tiver mais próximo ele estará de Deus.
  Este texto não tem a pretensão de resumirpontos pricipais de sua obra, somente observá-los e fazer-nos pensar em sua postura imanetista e mesmo sabendo da complexidade dos assuntos que foram apontados, cada autor a sua maneira, coloca de forma singular a posição racionalista de Espinosa e algins pontos que acharam relevantes mas acima de tudo; é um filósofo que realmente presa pela alegria de viver, nas paixões que contribuem para o auto aprimoramento, mostrando através dos argumentos defendidos pelos autores dos artigos que é possível ser livre, feliz e esclarecido sem depender de superstições, tudo isto através do conhecimento e valorização das coisas dentro da imanência divina.

terça-feira, 26 de março de 2013

Artigo


Ser negro no Brasil: alcances e limites


Fátima Oliveira



RESUMO
O ARTIGO aborda a mestiçagem, a condição de afro-descendência e a classificação racial oficial do Brasil (IBGE), além de tecer breves considerações sobre os conceitos de raça e de etnia; identidade racial/étnica; e políticas de ação afirmativa segundo sexo/gênero e raça/etnia. Conforme convenção do IBGE, no Brasil, negro é quem se autodeclara preto ou pardo, pois população negra é o somatório de pretos e pardos. Para fins políticos, negra é a pessoa de ancestralidade africana, desde que assim se identifique.

ABSTRACT
THIS ARTICLE deals with mixed ancestry, the condition of afro-descent and the official classification of races in Brazil, and includes brief considerations on the concepts of race and ethnicity, on racial/ethnic identification, and on sex/gender- and race/ethnicity-specific affirmative action policies. According to convention adopted by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), a black person in Brazil is anyone who claims to be black or brown, inasmuch as the black population is deemed as the sum total of all blacks and mulattos. In political terms, a black person is anyone of African descent who identifies him/herself as such.



O BRASIL É UM PAÍS mestiço, biológica e culturalmente. A mestiçagem biológica é, inegavelmente, o resultado das trocas genéticas entre diferentes grupos populacionais catalogados como raciais, que na vida social se revelam também nos hábitos e nos costumes (componentes culturais). No contexto da mestiçagem, ser negro possui vários significados, que resulta da escolha da identidade racial que tem a ancestralidade africana como origem (afro-descendente). Ou seja, ser negro, é, essencialmente, um posicionamento político, onde se assume a identidade racial negra.
Identidade racial/étnica é o sentimento de pertencimento a um grupo racial ou étnico, decorrente de construção social, cultural e política. Ou seja, tem a ver com a história de vida (socialização/educação) e a consciência adquirida diante das prescrições sociais raciais ou étnicas, racistas ou não, de uma dada cultura. Assumir a identidade racial negra em um país como o Brasil é um processo extremamente difícil e doloroso, considerando-se que os modelos "bons", "positivos" e de "sucesso" de identidades negras não são muitos e poucos divulgados e o respeito à diferença em meio à diversidade de identidades raciais/étnicas inexiste. Desconheço estudos brasileiros consistentes sobre identidade racial/étnica.

As classificações raciais: alcances e limites
Em 1775, Johann Friedrich Blumenbach (1752-1840), alemão, fundador da Antropologia, determinou a região geográfica originária de cada raça e a cor da pele como elementos demarcatórios entre elas (branca ou caucasiana; negra ou etiópica; amarela ou mongólica; parda ou malaia e vermelha ou americana). No século XIX, foram agregados outros quesitos fenotípicos, como o tamanho da cabeça e a fisionomia. Desde Blumenbach, no entanto, a cor da pele aparece como um dado recorrente. Inferindo-se, daí, que, dos dados do fenótipo, isto é, das características físicas, a "cor da pele" é o que tem sido mais usado e considerado importante, pois aparece em quase todas as classificações raciais.
Para fins de estudos demográficos, no Brasil, a atual classificação racial do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é a que é tomada como oficial desde 1991. Tal classificação tem como diretriz, essencialmente, o fato de a coleta de dados se basear na autodeclaração. Ou seja, a pessoa escolhe, de um rol de cinco itens (branco, preto, pardo, amarelo e indígena) em qual deles se aloca. Como toda classificação racial é arbitrária e aceita não sem reservas, a do IBGE não foge à regra, pois possui limitações desde 1940, quando coletou pela primeira vez o "quesito cor"*. Sabendo-se que raça não é uma categoria biológica, todas as classificações raciais, inevitavelmente, padecerão de limitações. Todavia, os dados coletados pelo IBGE, ao reunir informações em âmbito nacional, são extremamente úteis, pois apresentam grande unidade, o que permite o estabelecimento de um padrão confiável de comparação.
O IBGE trabalha então com o que se chama de "quesito cor", ou seja, a "cor da pele", conforme as seguintes categorias: branco, preto, pardo, amarelo e indígena. Indígena, teoricamente, cabe em amarelos (populações de origem asiática, historicamente catalogados como de cor amarela), todavia, no caso brasileiro, dada a história de dizimação dos povos indígenas, é essencial saber a dinâmica demográfica deles. Um outro dado que merece destaque é que a população negra, para a demografia, é o somatório de preto + pardo. Cabe ressaltar, no entanto, que preto é cor e negro é raça. Não há "cor negra", como muito se ouve. Há cor preta. Apesar disso, em geral, os pesquisadores insistem em dizer que não entendem, mesmo com a obrigatoriedade ética de inclusão do "quesito cor" como dado de identificação pessoal nas pesquisas brasileiras desde 1996, segundo a Resolução 196/96. Normas de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (VI. Protocolo de pesquisa. VI.3 '– informações relativas ao sujeito da pesquisa [...] cor [classificação do IBGE]).

A identidade racial/étnica
De acordo com a convenção do IBGE, portanto, negro é quem se auto-declara preto ou pardo. Embora a ancestralidade determine a condição biológica com a qual nascemos, há toda uma produção social, cultural e política da identidade racial/étnica no Brasil.
Vale mencionar ainda as polêmicas sobre o conceito de raça e de etnia, que, grosso modo, raça deveria ser um conceito biológico, enquanto etnia deveria ser um conceito cultural. Não sendo raça uma categoria biológica, etnia também se revela como um conceito que não é estritamente cultural, pois a delimitação de grupos étnicos parte de uma suposta alocação deles no conjunto dos grupos populacionais raciais sem abstrair a unidade do local de origem, e, para delimitar etnia, considera-se a concomitância de características somáticas (aparência física), lingüísticas e culturais. Enfim, o conceito de raça é uma convenção arbitrária e pode ser enquadrada como uma categoria descritiva da antropologia, uma vez que é baseada nas características aparentes das pessoas. Portanto, o uso dos termos raça ou etnia está circunscrito à destinação política que se pretende dar a eles.
Estudos da genética molecular, sob o concurso da genômica, são categóricos: a espécie humana é uma só e a diversidade de fenótipos, bem como o fato de que cada genótipo é único, são normas da natureza. Tendo o DNA como material hereditário e o gene como unidade de análise, não é possível definir quem é geneticamente negro, branco ou amarelo. O genótipo sempre propõe diferentes possibilidades de fenótipos. O que herdamos são genes e não caracteres!
Se para as ciências biológicas raça não existe e é consensual nas ciências sociais que o conceito de raça está superado, por que a insistência, em particular do movimento negro, em usá-lo como um paradigma da luta contra a opressão de base racial/étnica, ou seja, do racismo? Por questões políticas, já que o racismo existe e é uma prática política que tem por base não apenas a existência das raças, mas que as "não-brancas" são inferiores.

Políticas de ação afirmativa segundo sexo/gênero e raça/etnia
A alocação das pessoas segundo classe social, sexo/gênero e raça/etnia se constitui em indicadores que podem ser traduzidos em políticas públicas antidiscriminatórias na área da saúde, da educação, do saneamento, da habitação, da segurança etc. Um exemplo paradigmático é dado pelo Dossiê "Assimetrias raciais no brasil: alertas para a elaboração de políticas", publicado pela Rede Feminista de Saúde e elaborado pela pesquisadora Wânia Sant'Anna (2003). Este Dossiê promove um diálogo entre dados com recorte racial/étnico nas mais diferentes áreas da vida social, sistematizados pelo Ipea e obtidos das PNADs da década de 1990 até 2001, além dos Megaobjetivos do "Plano Plurianual (PPA) 2004-2007 – Orientação estratégica de governo, um Brasil de todos: crescimento sustentável, emprego e inclusão social". O referido Dossiê visibiliza a crueza da realidade vivenciada pela população negra, uma situação de desvantagens e vulnerabilidades em todas as esferas da vida (disponível em < www.redesaude.org.br/dossies/html/dossieassimetriasraciais.html).
A medicina baseada em evidências demonstra que algumas doenças são mais comuns ou mais freqüentes, ou evoluem de forma diferenciada, em determinados agrupamentos humanos raciais ou étnicos, conforme determinadas interações ambientais e culturais com o patrimônio genético. Relembrando que humanos são seres biológicos regidos também por leis biológicas, urge considerar que há uma produção social da enfermidade, ou da manutenção da sanidade, nas condições das sociedades de classes, da opressão racial/étnica e da opressão de gênero. Diante do exposto, o significado político de se dar visibilidade aos dados da morbidade e da mortalidade segundo sexo/gênero e raça/etnia é incomensurável.
No caso da população negra, há vários estudos que corroboram que o recorte racial/étnico na saúde é um componente essencial para a compreensão do que chamamos predisposição biológica, a qual, como tenho afirmado em vários escritos, significa a maior ou a menor capacidade de um ser vivo responder às complexas interações solicitadas pelo meio ambiente físico, e, no caso de humanos, também pelo meio ambiente cultural em que vive. A predisposição biológica resulta e refere-se a um longo processo evolutivo da humanidade, é o binômio indissociável: constituição hereditária + meio ambiente. O que quer dizer que o caráter social e histórico das doenças é amplamente demonstrado através da história de vida das pessoas, e esta está intimamente vinculada ao sexo (ao privilégio ou desprivilégio de gênero); à raça/etnia (à vivência ou não do racismo).
Apesar das limitações inerentes ao que se convenciou denominar de classificação racial, é de grande valia uma classificação racial como a brasileira, pois através dela é possível delimitar de que adoece (morbidade) e de que morre a população negra, indicadores fundamentais para políticas de combate ao racismo institucional no aparelho formador, nas instituições e profissionais de saúde, sendo o mesmo válido para outras áreas.


Texto recebido e aceito para publicação em 23 de fevereiro de 2004


Fátima Oliveira é médica, secretária executiva da Rede Feminista de Saúde (2002-2006) e presidenta da Regional Minas Gerais da Sociedade Brasileira de Bioética. Autora de: Engenharia genética: o sétimo dia da criação(Moderna, 1995); Bioética: uma face da cidadania (Moderna, 1997); Oficinas mulher negra e saúde (Mazza, 1998); Transgênicos: o direito de saber e a liberdade de escolher (Mazza, 2000); O "estado da arte" da reprodução humana assistida em 2002 e Clonagem e manipulação genética humana: mitos, realidade, perspectivas e delírios (CNDM/MJ, 2002); e Saúde da população negra, Brasil 2001 (OMS/Opas, 2002).
* Em 1940, o "quesito cor" era composto de: amarelo, branco e preto, mas havia o recurso para "cor indefinida" – que na tabulação dos dados foi denominada de "pardo" – o qual englobava: mulato, caboclo, moreno e similares que expressassem "não-brancos" e não enquadrados como amarelo ou preto.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Questões

  Nesta parte, coloque alguma questão que você considere importante... Tentaremos encontrar uma resposta satisfatória, se não correspondermos as expectativas da resposta, começaremos então a buscar elementos para encontrá-la e conversaremos sobre o assunto, compartilhando conhecimento...

Brechó do Emerson

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sexta-feira, 8 de março de 2013

Homenagem as Mulheres

Mulheres,

 Sabe, eu estava observando atenciosamente como vocês caminham, como sorriem, como vivem.... Fico  perdido em meus pensamentos me perguntando de onde vem sua força, seu poder, sua beleza, seu instinto materno... Quando passam ao meu lado consigo sentir um gostoso cheiro de perfume, e em seus olhos, bem profundamente, observo que eles podem ser comparados a pureza do orvalho da manhã...
 Cada uma possui algo mágico , divino, uma coisa que com palavras não conseguiria descrever por mais que eu tentasse... Algumas com personalidade forte, outras, mais amena, mas há algo que as tornam todas iguais: o encanto pela vida por mais desencantada que ela esteja, a fúria em defesa daquilo que ama,  simplicidade que encontram nas coisas complicadas, e entregam-se ao amor de uma forma completamente singular e leal.
 Agradeço a Deus por vocês, um presente divino ao qual realmente é uma agradável caixa de surpresas.

Parabéns a todas as mulheres do mundo...      

Eric Fênix

segunda-feira, 4 de março de 2013

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Mensagem de Revigoramento

  A amizade madura é algo que por si só sagrada, por isso coloco o que '' amigo é quem te socorre , não quem tem pena de ti".



 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Mensagens de Revigoramento

   Na vida é necessário que tenhamos muita força e coragem para enfrentar as dificuldades mas sobretudo, é preciso agradecer as dádivas divinas.

   
   Ela  faz  com que tenhamos coragem e lutemos por nossas vidas!!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

                                             Entrevista do professor Desidério Murcho...


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

                                    Seminário sobre a meditação seis de Descartes, ''A Condição Humana"




quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

ENPEFFE 2013

Haverá o segundo Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Filosofia e Ensino da Educação.
Data: De 10 á 12 de Abril
Local: Ouro Preto - IFAC/ UFOP

Mais informações através do site www.enpeffe.wordpress.com  

Pensamentos Compartilhados

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Conversa Franca

Este blog tem o objetivo de conversar a respeito de vários assuntos principalmente ligados a áreas humanas... Uma modo de dizer que a palavra chave adequada seria COMPARTILHAR...