sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

A VIRTUDE COMO ALIADA DO SOBERANO NA ARTE DA GUERRA



Eric Tadeu Miguel
Universidade Federal de São João Del-Rei
Orientador: Prof. Dr. José Luiz de Oliveira

Resumo: O trabalho a seguir tem como objetivo explicitar a virtude como aliada na arte da guerra segundo os apontamentos feitos por Nicolau Maquiavel, na sua obra “A Arte da Guerra”. A virtude seria a essência do homem, e ela no caso, é decisiva para que se possa obter a vitória em tempos de guerra, e em tempos de paz, seria necessária para manter um exército forte e organizado, e este exército seria justamente composto por homens governados por alguém que por meio de suas virtudes, os incentivem a ter gosto pelas atividades cotidianas. Assim, explicitaremos que a virtude é importante para quem comanda na arte da guerra justamente para cativar a infantaria e mantê-los leais ao soberano. 
Palavras-chave: Estratégia; Poder; Virtude.     

Considerações Iniciais
A obra realizada no século XVII, relata a realidade de sua época em um envolto marcado pela soberania e guerras. A Arte da Guerra nada mais é que estratégias militares utilizadas para a manutenção do soberano no poder. Para isso, é preciso que o mesmo apresente certas características mas a considerada crucial e apresentada nesse trabalho é a virtude, sem ela o soberano é capaz de governar, tão pouco entender a respeito de assuntos que referem-se à defesa de seu principado. Dessa forma, a virtude será apresentada e no desenvolvimento desse nosso trabalho será apresentado que ela é sim um verdadeiro aliado na arte da guerra, pois a mesma exige disciplina e sem a sua aplicação, é praticamente impossível obter qualquer virtude.

I. O Significado da Virtude
O significado da virtude na perspectiva de Maquiavel é algo importante para lidar com as formas de manutenção do príncipe no poder. Em abordagens  presentes em sua obra O Príncipe (1532), o autor florentino aponta que em termos de importância e sabedoria, o que um príncipe pode fazer é retornar ao passado, ou seja, a verdadeira prudência do homem está em tentar reproduzir a maneira de como os grandes homens procediam para que assim ela possa agir da mesma forma ou pelo menos se aproximar da maneira apropriada para atinjir o objetivo esperado. Trata-se de esclarecer nesse caso, sobre a importância e o alcance da permanência do soberano no trono conquistado (MAQUIAVEL, 1961, p. 53).
            A virtude estaria no valor pessoal que o príncipe possui, bem como em suas características na condição de homem e líder. O príncipe deve almejar chegar a tal posição, afinal ele não chegou à mesma por mero acaso; pois para assumir tal responsabilidade, ele deve realmente estar preparado. Tal preparação consiste em estudar sobre a história que envolveu os grandes homens. Dessa maneira, deve o príncipe inspirar nos feitos desses grandes homens para encontrar-se em seus valores. Nas palavras de Maquiavel (1961):
Um homem prudente deve assim escolher os caminhos já percorridos pelos grandes homens e imitá-los; assim, mesmo que não seja possível seguir fielmente êsse caminho, nem pela imitação alcançar totalmente a virtude dos grandes, sempre se aproveita muita coisa. (...) E porque o fato de elevar-se alguém a príncipe pressupõe valor ou boa sorte... é comum observar que muitos que foram menos afortunados se mantiveram mais tempo no poder. (54)
 
                Percebe-se que de acordo com o posicionamento de Maquiavel, a verdadeira virtude está no esforço do retorno ao passado, na apreenção das atitudes dos grandes homens tidos como virtuosos. O posicionamento do príncipe é o de fazer o possível para desenvolver e aproveitar  ao máximo os ensinamentos estudados para que estes façam parte da sua essência de soberano. Tal medida constiui um valor ,no momento em que se leva em conta as dificuldades enfrentadas por um homem antes dele alcançar tal posição. Sua probabilidade de se manter no poder é muito maior pelo fato do príncipe ter passado por vários tipos de situações e ter conseguido encontrar uma solução para cada uma delas de modo particular.
            Assim, o significado de virtude é inerente ao valor pessoal do soberano. Temos aqui um tipo de valor que estaria sendo almejado por meio da imitação do comportamento dos grandes homens. Nesse caso, a virtude seria relevante para a efetivação da arte da guerra. Para que possamos vislumbrar de maneira correta a relação entre a virtude e a arte da guerra, precisamos primeiramente explicitar seu significado, de acordo com o viéz da interpretação maquiaveliana.   
   
II - O que é a Arte da Guerra

            A vida militar, segundo as manifestações de Nicolau Maquiavel, seria uma vida regrada, exigente, totalmente diferente da vida civil e do senso comum. Durante muito tempo, o que mantinha a ordem nas instituições  era o apoio militar, pois a confiança que é depositada naqueles que juraram se dedicar à sua pátria é bastante significativo. A vida militar pode ser apontada como temor a Deus, afinal, são muitos os  perigos que envolvem a vida de um soldado. A vida militar pode ser coonsiderada também como ato de amor, pois, o soldado ao realizar os exercícios militares, demonstra com essa atitude que está disposto a manter a paz em sua pátria, enfrentando a guerra.         (MAQUIAVEL, 1987).
Percebe-se que  para o exercício da arte da guerra, é preciso uma rigorosa disciplina. Por essa razão, se observarmos na obra A Arte da Guerra, nela se explicita que se houver imitação das atitudes dos antepassados, pode-se garantir o futuro da pátria, pelo contrário ela pode estar ameaçada por causa da deturpação dos costumes e isso pode levar a pátria à derrota. Sobre isso, em termos maquiavelianos:
Seria melhor imitar os antigos nas coisas fortes e duras... em vez de fazê-lo no que é delicado e suave. Imitá-los no que faziam ao sol e não a sombra. Seguir o costume dos antigos de modo genuíno, não de maneira falsa e corronpida, pois quando assim agiram os romanos levaram a pátria à perdição. (20)
 Depreende-se que a reprodução das virtudes realizadas pelos ancestrais e estas sendo boas e claras, devem continuar sendo adotadas para o bem e manutenção da pátria. No caso, as virtudes que se assemelham às virtudes dos antigos seriam, a honra, a coragem, a aceitação da pobreza, o amor mútuo e a instituição militar, além de prezar pelo interesse público (MAQUIAVEL, 1987, p. 21).
            Na arte de executar a guerra, observando de uma maneira mais precisa, a virtude seria a preparação para a realização da guerra e esta teria que ser feita de forma que os olhos alheios enxerguem. As virtudes citadas anteriormente são válidas,  justamente pelo fato de serem explícitas, uma vez que na realização da guerra expor tais virtudes é algo relevante. Se não houver real preparo para tal ação e as coisas forem feitas  de forma escondida, haverá desleixo acarretando segundo a abordagem maquiaveliana “carência da ação” e a falta de preparo. A consequência de tudo isso pode ser o não êxito da tão almejada ação. (MAQUIAVEL, 1987, p. 22)    

III - A Estratégia
            Nos tópicos anteriores foram colocados o significado de virtude e sua importância para Maquiavel e com pontos ressaltados, pôde ficar ainda mais clara estas questões acerca da virtude. O que faz realizar-se no príncipe este princípio de virtude? Como foi ressaltado, ela é muito importante para a conquista e manutenção do soberano no poder, porém, o que será exposto nessas linhas é a maneira de como isso acontece, afinal, o pensador ao escrever essas obra, expressou principais pontos considerados relevantes e que estão relacionados à conquista do poder e sua manutenção.
            O que faz o soberano ser o que ele é realmente são suas atitudes. No caso, elas provém obviamente. Contudo, é preciso também acrescentar atitudes virtuosas que deram certo no passado ou seja, o príncipe por meio de um “estudo”, procura buscar para si todas as virtudes possíveis dos grandes soberanos. Ora, ao realizar este feito, o príncipe mostra de certa forma sabedoria porque ao investigar o passado dos grandes homens escolherá para si as virtudes que devem ser adotadas ao seu comportamento, para assim realizar atitudes consideradas virtuosas e manter-se no poder (Maquiavel, p. 53).
             Assim, a estratégia da arte da guerra usada pelo soberano seria o recurso a este retorno ao passado para imitar homens virtuosos e com isso, ser de fato o homem adequado para a conquista e permanência em seu posto auxiliando as tropas na arte da guerra.

Considerações Finais
        Acreditamos ter conseguido expor nestas breves linhas o significado da virtude, a sua importância segundo Maquiavel, pois imitar os grandes homens é primordial para a apreensão de virtude, principalmente no que diz respeito à virtude necessária à arte da guerra. Trata-se de um  significado, que segundo o filósofo, é um ato de amor pois quem a pratica está disposto a morrer por sua pátria e também levar em conta a disciplina. Isto é a vida totalmente regrada de quem se dedica as artes militares.
            Evidencia-se que para Maquiavel, a estratégia no caso seria o estudo das virtudes dos grandes homens e aplicá-las no exercício da arte da guerra. Dessa maneira, o desenvolvimento do príncipe tende a obter sucesso, pois sem a virtude da disciplina não tem como haver a execução das artes militares.

Referências
MACHIAVELLI, Nicolò. “O Príncipe”. Trad. Lívio Xavier. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1960.
MACHIAVELLI, Nicolò. “A Arte da Guerra”. Trad. Sérgio Bath. Brasília: 3ª Edição, Editora universidade de Brasília, 1982.
  


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