sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

ELEMENTOS MAQUIAVELIANOS PRESENTES NA DITADURA MILITAR BRASILEIRA



Ac: Eric Tadeu Miguel
Orientador: Prof. Dr. José Luiz de Oliveira

Resumo: A ditadura militar brasileira (1964-1985) usando o medo como coação, agiu dessa forma como estratégia para ter o povo sob seu domínio. Dessa maneira, os brasileiros sentiram a mão de ferro do poder, que por meio dos representantes do governo souberam articular o uso da força, e por meio de suas ações desfrutaram do poder durante um período de vinte e um anos. Porém, com a implementação das eleições indiretas, aconteceu a entrada e saída de vários governos, e em comparação aos escritos no Príncipe maquiaveliano, cada um deles deixou seu signo.  Para alguns, em se tratando de instituições e pessoas, sua forma de governo foi realmente positiva, para outros foi o contrário. Nesse sentido, elementos dessa obra clássica criada pelo renascentista florentino estavam presentes fervorosamente nas ações políticas durante esse período. Assim, por meio do livro O Príncipe , o medo, juntamente com a força bruta e a frieza foram os elementos necessários para o fortalecimento do regime militar.    
Palavras-chave: Ditadura; Força; Medo; República; Príncipe.




Considerações iniciais
   O seguinte acontecimento que praticamente durou 21 anos em nosso país e chamamos de Ditadura Militar, significa que durante esse período, temporariamente, o governo foi conduzido pelas Forças Armadas Brasileiras, não sendo normal o poder legislativo abrir mão para que o executivo governasse.
   Em sua obra (ensaio) A Ditadura Envergonhada, Elio Gaspari explica pontos como  o que significou esse período, esclarece sobre a questão da violência, explicita também o papel da esquerda e da direita. Esse autor procurou demonstrar como se armaram  a tortura realizada pelos militares no período da ditadura implementada por eles.
   O seguinte trabalho tem como finalidade, correlacionar O Príncipe de Maquiavel com pontos colocados anteriormente e que pertencem ao mesmo livro e dessa forma deixar claro que o medo foi a principal característica para a manutenção dos militares no poder.   

O significado ( da ditadura)
           Segundo as colocações feitas por Elio Gaspari, em 1977, havia uma distância muito grande entre Ernesto Geisel, presidente da república e Sílvio Frota, ministro do exército, que pelas explanações apresentadas na obra Sílvio frota estava contra o regime de liberalização de Geisel. A postura de ambos os ministros desde 1964 eram contrárias e por causa da tradição criada desde aquela época sempre prevaleceu. Naquele contexto, a vontade de Geisel pode ser comparada á a vontade do príncipe como na obra maquiaveliana e será explicitado no decorrer desde trabalho.
             O presidente Geisel, como foi colocado anteriormente, fôra completamente contra a posição de Frota :
  
Frota, nós não estamos mais nos entendendo. A sua administração no ministério não está seguindo o que combinamos...Bem, então vou demiti-lo. O cargo de ministro é meu, e não deposito mais em você a confiança necessária para mantê-lo. Se você não pedir demissão, vou exonerá-lo. (pág 22,).
          Analisando o acontecido, podemos perceber como algumas das ideias do livro O Príncipe estão bem fixadas nessa ação de Geisel. Podemos fazer uma relação disso com a questão que Maquiavel levanta acerca de como o governante deve agir, de maneira benevolente ou de maneira maldosa mas para agir de uma ou outra  é preciso saber a força  de seus adversários.
      Como o presidente já sabia da força de Frota, usou da maldade e da fortuna para manter-se no poder. A posição malévola é a mais indicada pelo filósofo como aponta na citação: 
“...uma vez que os homens amam de acordo com seu próprio desejo e temem de acordo com aquele do soberano, concluo que um príncipe sábio deve se basear naquilo que está no seu próprio controle e não no dos outros; ele deve se esforçar apenas para evitar ser odiado...” (O Príncipe,Universo dos Livros, 2009, São Paulo, pág 80).
      No que refere-se a esta atitude, Geisel usou de forma correta, dentro do estudo maquiaveliano, aquilo que estava sobre seu controle que neste caso seria sua posição como presidente e os privilégios que ele poderia usufruir, portanto demitir Frota da maneira como o autor descreveu, significa, no viez do florentino, erradicar o que o prejudicaria de uma só vez como também evitar ser odiado pelas pessoas que o cercam.
       O autor destaca que o general Golbery do Couto e Silva estava por trás de muitos acontecimentos, entre eles a saída de Frota e ele era uma das pessoas que mais colaborou com Geisel desde 1974. Se observarmos a atitude do presidente, ele agiu como indica o escritor italiano, de maneira prudente, pois pede ajuda a uma das pessoas de sua confiança, provavelmente analisa sua opinião mas toma a decisão de escutar o que Golbery lhe proporcionara.

         Então se observarmos a partir do que foi apresentado até agora, a ditadura nada mais foi que um regime concentrado nas mãos de militares, no caso apresentado aqui o poder estava nas mãos de Ernesto Geisel e Golbery Couto e Silva, com isso o presidente utililizou desse poder para realizar aquilo que achava prudente, ou seja o mesmo não admitia oposição a sua vontade assim como no príncipe maquiaveliano, o poder concentrado nas mãos de uma só pessoa faz com que ela redirecione qualquer situação visando sua manutenção no poder sendo ele a autoridade máxima.
       Isso explica porque a instauração do medo foi primordial para a manutenção da ditadura durante tanto tempo mas também o motivo de sua decadência, como na obra “O Príncipe”, o país tendo sua liberdade tirada pode ser comparado ao capítulo terceiro intitulado Dos Principados Mistos (pág 37) desta mesma obra em que na época da ditadura o presidente (o príncipe), tenta apagar os vestígios do reinado do príncipe anterior, no caso, os vestígios do governo anterior; a ditadura com seus meios sórdidos, implementa ao estado conquistado, neste caso, ao país conquistado, sua forma de coação por meio da violência como será esclarecido mais adiante.
       Assim, a ditadura militar brasileira, estando diante das informações apresentadas é muito parecida com o principe maquiaveliano devido ao fato da concentração do poder estar nas mãos de uma única organização e neste caso, a organização sendo representada por um único homem, o presidente Geisel que podemos representá-lo como o príncipe. Isso faz com haja consequências negativas devido ao medo que é imposto através da violência, ou seja a característica principal deste governo seria o medo imposto e tal será explicitado no próximo ítem.          



 OS ELEMENTOS ESSENCIAIS (força bruta, frieza e tortura)
          
      As colocações apresentadas anteriormente, pautadas nas investigações de Elio Gaspari acerca da ditadura são relevantes. Para que assim possamos nortear nossa investigação, sabendo que o assunto exige um rigor necessário e merecido, explicitaremos mais a respeito dos generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva e sua marca registrada que no caso seria a tortura e como essa atitude tem relação com as colocações de Niccolo Machiavelli  e a relação com a violência.
         Segundo o autor do ensaio, ambos os generais, cada um em seu posto no cenário nacional da época, participaram de forma ativa com um elemento usado tanto no começo até o fim da ditadura, que neste caso seria a tortura, como é colococado pelo autor:
                                                                                
                                                              No início e no fim entre a tortura e a                                                                                 sociedade estão os generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva. Ambos participaram dos primeiros lances da construção, em 1964, de um aparelho repressivo incapaz de conviver com um regime constitucional. Geisel colocado por Castello na chefia do Gabinete Militar da Presidência, estava no olho do furação da usina de punições políticas instalada ao amanhecer do regime. Golbery, concebendo, organizando, e dirigindo o Serviço Nacional de Informações, criou o núcleo da rede de espionagem e represão que, a partir de 1968, tomaria conta do Estado.  
       
            Quando a tortura passa a ser uma característica de dominação, pode-se comparar a colocação do florentino em relação ao tratamento aos homens.  Maquiavel deixa claro no capítulo terceiro, que o príncipe  deve oferecer um bom tratamento aos homens ou então estingui-los, significa que, comparando a postura de Geisel e Couto e Silva, usando deste método para consolidação do poder, fica evidente que eles não estavam temerorosos com possíveis reações da população brasileira da mesmam forma que o Príncipe não teme a vingança de seus súditos. (O Príncipe, pág 37).
          Porém, se atentar-nos as colocações anteriores, veremos então que a força bruta e a frieza são essenciais para este tipo de conquista com crueldade. No caso, como a tortura foi algo característico do príncipe que é mais odiado do que querido, pois fazendo este comparativo com Maquiavel, o domínio do

Estado pelos militares nada mais fez com que aumentar o ódio da população, e o mesmo pode ser comparado com os súditos.
        Da mesma forma, podemos ressaltar o que é exposto pelo filósofo italiano em sua obra em se tratando de injúrias com o povo, o príncipe deve zelar pelo mesmo, pois, o poder e a força está com ele e não diretamente com o soberano, da mesma forma, apesar dos militares estarem comandando o Estado brasileiro, o poder estava nas mãos do povo. E na mesma forma que na obra maquiaveliana, esse mesmo povo que tem o poder de exaltar o soberano, no caso os militares, tem o mesmo poder de retirá-lo. Isso ocorreu de fato na ditadura militar, pois da mesma forma que em Maquiavel, o povo já estava injuriado e ele mesmo queria o fim da ditadura.
          Porém, como na obra O Príncipe, especificamente no capítulo oitavo, que se trata da crueldade sendo realizada de uma vez só pelo soberano, para depois o bem ser realizado aos poucos, para que o soberano conquiste a amizade dos súditos, pode ser comparado com a atitude do presidente Geisel com O Príncipe maquiaveliano, que no começo e no fim da ditadura apoiou os atos de crueldade mas durante seu governo, realizou obras que, se olharmos com um pouco mais de atenção, foram realizadas para o povo (súditos) para de certa forma camuflar a crueldade por detrás das ações e assim ser querido pelo povo.
        Assim, a tortura, juntamente com a força bruta e a frieza foram os elementos primordiais e as marcas camufladas pelos seus feitos para com o povo deixadas por Geisel em seu governo. Apoiado por Couto e Silva, reprimiram o Estado; como em Maquiavel, usaram da crueldade para conquistar e manter seu poder mas fizeram com que o povo (súditos) os odiassem e assim, o mesmo povo que tem o poder de levantar alguém é o mesmo que pode derrubar devido as ações negativas do soberano, no caso, a postura de Geisel em seu governo. Apesar de aparentemente estar do lado do povo, o medo era o maior aliado do presidente e da Ditadura Militar.



 O JUIZ (O Povo)
   O que mais está presente em um poder que vem de outrem seria o poder do povo. Se observarmos tanto na ditadura quanto na época de Maquiavel, é que as regras por mais impostas que sejam por algum soberano só serão validadas de acordo com a vontade do povo. No caso da ditadura, ela foi praticamente instaurada pelo medo através dos militares e isso proporcionou ao país uma certa reflexão em relação ao governante tanto que o povo foi contra a ditadura e anceram pela república.
     O povo, tem o seu papel primordial na ditadura, pois com essa experiência, o mesmo instaurou a república e comparado a obra florentina, o mesmo povo que diretamente ajuda o soberano no alcance e manutenção do poder, é o mesmo que fica injuriado quando é ofendido e desacatado pelo soberano.
    Assim tanto no ensaio apresentado por Elio Gaspari, quanto no livro O Príncipe de Maquiavel, o povo é que indiretamente determina a manutenção do soberano no poder de acordo com suas ações, ele é o juiz, aquele que julga as ações do soberano para que dessa forma a nação possa ter o melhor desenvolvimento possível.

Considerações Finais
   Esperamos ter através deste trabalho ter conseguido explitar pontos relevantes da obra maquiaveliana com a ditadura militar brasileira, especificamente no período de Geisel e que assim possa ter ficado claro a presença do medo como forma de coação pela tortura na ditadura comparado ao principe maquiaveliano que usa da força para o mesmo fim.     

Referências:
GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada, Editora Schwarcz LTDA, 2004.
MACHIAVELLI, Niccolo. O Príncipe, Edições de Ouro, 1961. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário