Universidade
Federal de São João Del- Rei
História
da Filosofia Moderna I
Professor
João Bosco
Baruch
Espinosa e seus principais temas
Eric
Tadeu Miguel
Espinosa e alguns de
seus temas principais
O
seguinte texto tem como objetivo abordar de uma forma crítica o sistema
monista/panteísta e imanentista de Baruch Espinosa partindo de temas como
substância, atributos e modos, a expressão Deus
sive Natura, a manifestação intelectual em relação ao criacionismo e ao
dualismo cartesiano, a liberdade e a servidão, conhecimento, necessidade e
liberdade, os três graus de conhecimento, livre arbítrio, paixões e ação, a
representação sobre a subespécie aeternitatis,
crítica ao antropomorfismo, as superstições, ao medo e a ignorância, a relação
corpo e alma, alegria, desejos e paixões, a expressão do realismo homo sapiens demens, crítica a idéia de
bem e mal, autoritarismo, Estado e religião, potência, felicidade, beatitude, e
o sentido do amor intelectos dei,
opensamento complexo e sua influência no pensamento coetâneo. Todos os temas
citados, foram abordados na obra de Espinosa “ Etica mostrada a maneira dos
geômetras e nos textos; Spinoza e o problema da liberdade escrito por Regina
Schopke; O conhecimento do conhecimento: a filosofia de Baruch Espinosa e o
pensamento complexo, de Humberto Mariotti; O conatus de Spinosa: auto conservação ou liberdade? Escrito por
Rafael Rodrigues Pereira; Paixão, ação e liberdade em Espinosa, de Milena
Chauí; As definições de causa sui; substância e atributo na
Ética de Benedictus de Spinoza, feito por Emmanuel Angelo da Rocha Fragoso, e a
palestra proferida por Cláudio Ulpiano.
O
filósofo nasceu na Holanda(1632 – 1677), criando um sistema monista/ panteísta
sendo crítico da religião. Para ele, Deus é o sistema que compõe a realidade,
levando seu racionalismo ao absoluto, o Deus de Espinosa é um Deus racional,
desta forma, valoriza a geometria escrevendo suas obras como se estivesse
fazendo um cálculo.
Com
a concepção de um Deus racionalista, acontece uma abertura para o nascimento
das ciências particulares como a aritimética por exemplo, Deus passa a ser o
problema relevante do racionalismo moderno, isso faz com que o Deus de Espinosa
se diferencie do de Descartes por que, recorre-se a uma causa primeira para
explicar a realidade e não partindo do homem para Deus, assim, Ele é um Deus
criador no ponto de vista cartesiano, ao qual Espinosa é contra esta concepção
de criacionismo que será esclarecida no decorrer do texto.
O filósofo éum areligioso e muito profundo em
seus questionamentos sendo o maior livre pensador existente. Ele era judeu mas,
depois “libertou-se” justamente por causa da sua forma livre, singular e
convicta de pensar.
Espinosa inicia sua Ética partindo de Deus
para o homem, que ao contrário de Descartes, parte do homem para Deus, assim,
as definições de substância de ambos os filósofos tem uma certa divergência;
para Espinosa Deus é uma única substância e para Descartes, Deus e todos os
outros seres são compostos de substância, não obstante, o que reforça o
argumento na concepção espinozista é de que, sendo Deus uma só substância, ela
existe e é concebida em si, assim, não seria lógico dizer que o homem também é
composto de substância por que, se assim o fosse, o homem conceberia a si
próprio, como não foi-lhe atribuída tal capacidade, Deus é este ser que
concebe-o e a todas as coisas.
“(...) Toda
substância é necessariamente infinita” e “afora Deus, não pode ser dada nem
concebida nenhuma outra substância”
B.Spinoza,
Ética I, Proposição VIII, Proposição XIV
Significa
que, nada existe fora da totalidade, pois ela é o próprio real, as coisas são
em Deus, então o filósofo coloca que:
“Por Deus entendo o ente absolutamente
infinito, isto é, uma substância que consta de infinitos atributos, onde cada
um dos quais exprime uma essência eterna e infinita”
Definições V
Deus então é
causa de si, desta forma, a essência envolve necessariamente a existência pois,
quando se causa, ela já é. Com isso, a questão de um Deus criador cai por terra
porque, segundo a colocação da autora Regina Schopkesobre o posicionamento de
Espinosa, há um só Deus, pois, se é colocado que Ele criou o mundo do nada
significa que, existe Deus e o nada, logo, Deus seria limitado por uma outra
coisa e se assim o fosse, Ele não seria
um ser absoluto e onipotente. A Totalidade, este ser que é Deus, é um ser
produtor, que se autoproduz, sendo Ele causa de si ou seja, “causa sui”, dessa forma, Deus é pura
potência, logo, independente da sua vontade, Ele age de acordo com a sua
natureza, que é a de se autoproduzir e ao fazê-lo, produz o mundo e as outras
coisas; por causa dos fatores colocados acima, Deus não tem livre-arbítrio.
Em relação a atributos, a autora do primeiro
texto, deixa claro o significado segundo Espinosa, o que é e o que constitui
essencialmente a substância, e no caso, conhece-se dois destes atributos
infinitos; o pensamento e a extensão. Os atributos são afecções da substância
ou seja, de Deus, que cada um deles de forma particular se mostra como é, isso
seria a expressão da essência divina. Os modos são a expressão dos entes
particulares da essência da substância, ou seja, o homem é um modo de Deus pelo
fato de, assim como as outras coisas existentes, possui características
particulares da essência divina, então a expressão ”Deus sive Natura” (Deus, isto é, a Natureza) significando no texto
dois que este Deus é a própria Natureza e todas as coisas que nela estão, por
isso se trata também de um pensamento naturalista.
Tanto no
primeiro artigo(Regina Schopke) quanto no segundo(Humberto Mariotti), a
significação sobre Natureza Naturante e Natureza Naturada são as mesmas: a
Natureza Naturante seria a substância e seus atributos, e a Natureza Naturada
seria constituída pelos seus modos, estes que anteriormente foram explicitadas
a sua significação.
Para Espinosa, as coisas estão necessariamente
relacionadas umas com as outras, com isso, ele critica o dualismo cartesiano
que seria a separação de algumas coisas, nesse caso seria a separação do corpo
e alma, porém na tese do filósofo holandês, não há dominação de um sobre o
outro, tendo ambos a mesma importância. Na colocação feita por Regina Schopke,
Espinosa conclúi que o que destrói o nosso corpo não pode existir nele e nem em
Deus, enquanto ele tem idéia do nosso corpo, então seria pertinente perguntar:
Se tudo que existe, existe em Deus, por que existem coisas que prejudicam o
corpo sendo que, todas elas fazem parte da existência naquilo que é imanente?Em
relação a alma, Espinosa coloca que ela é a idéia do corpo e de si própria, a
mente é uma idéia, ou seja, idéia de seu corpo e dela mesma, com isso, alma e o
corpo são singulares e eles se comunicam por que são impressões finitas
originadas de Deus sendo dois atributos em estados iguais “compartilhando”
efeitos de algum acontecimento; se algo acontece no corpo, reflete na alma e
assim vice-versa.
Em relação ao antropomorfismo, Espinosa se posiciona
contra por que seria como se o homemquiesesse colocar Deus girando em torno
dele, o filósofo também é contra o voluntarismo; Deus não castiga e nem perdoa,
assim, o bem e o mal são criações humanas, por isso Baruch critica a questão
dos dois, pois, a vontade de Deus já segue os meandros do conhecimento.
Como visto anteriormente, Deus é causa suiou seja, causa de si mesmo e
pode ser conhecida através da razão, o homem está incluído na Totalidade e é
convidado a se colocar diante dela, o filósofo então frisa o pensamento
complexo que será tratado mais adiante.
Para Baruch existem três tipos de
conhecimento: o sensível, o racional e o intuitivo. O primeiro é caracterizado
pela imaginação e subjetividade, sendoeste inadequado, por que gera paixões á coisas
externas e que escravizam. O segundo é o racional, abrangendo melhor as coisas
não levando em conta o presente, o passado e o futuro, segundo o filósofo, o
tempo é irreal, assim, a eternidade é ausência do tempo, tendo essa
compreensão, o homem vê o mundo em termos de eternidade ou seja: vê o mundo
como Deus vê que significa sub
specieaeternitatis. O terceiro é o mais relevante de todos pelo fato de
poder chegar a idéias adequadas, conhecendo suas causas, efeitos e ligações. O
pensamento espinozista é reflexivo, levando a pessoa a uma auto-investigação
que pensando o pensamento, consegue-se o conhecimento, o pensamento complexo
seria então um diálogo entre a razão e as paixões, pensamento e sentimento com
o objetivo de mudar nossa auto visão evisão do mundo, conhecendo a Totalidade,
e as partes que a compõe e a interação entre elas.
No artigo escrito por Rafael Rodrigues
Pereira, o conatusé algo que já nasce dentro da pessoa, um instinto elevado,
uma paixão pela existência buscando o auto aprimoramento. Com isso, quando eleposiciona-se
em relação as paixões, Espinosa quer condenar as paixões que são contra o auto
aprimoramento, como a tristeza por exemplo, assim, ele é a favor das paixões
alegres, com contribuem para a perfeição do indivíduo, por isso a alegria é uma
paixão que pode nos levar a este estado de perfeição
“Oconatus, portanto,parece remeter a um
esforço de auto-conservação, ora de expansão e aprimoramento pessoal”...”a
alegria como uma paixão pela qual passamos a uma perfeição maior...”
Se o homem não fizer por onde buscar mais
conhecimento, fica fadado a servidão. A liberdade está vinculada ao
conhecimento. Sua própria existência é algo de criador, dar significado as
coisas, o determinismo do homem é direcionado a fazer algo para conseguir
alguma coisa. O finalismo, que é algo criticado pelo filósofo, é fruto da
imaginação do homemou seja, o homem coloca Deus para trabalhar para ele, com
essa posição o filósofo se mostra anti-cartesiano por que aTotalidade não tem centro, o homem
quer fazer as coisas girarem em torno de si, então o finalismo vai contra a
determinação dos acontecimentos, este finalismo seria a ignorância das causas
das coisas.
Em primeiro lugar, tudo se entrelaça pela
relação causal, em segundo lugar, o homem vive completamente no mundo da
ilusão, achando que as coisas aconteçam de acordo com os desejos dele. Se não é
colocado um relativismo no seu mundo, o homem se perde no meio das coisas, este
quadro é construído, ou seja, pensa que aquele mundo é sólido, é um euconstruído com esforço que possa ser
volátil para haver mudança no quadro
referencial; tudo é relativo, é permeável, flexível, e propenso a mudanças, é
um eu junto com outros. Quanto mais o
homem se adequa ao conatus, mais feliz ele é, sendo necessário aprofundar-se
nos conhecimentos em geral. A idéia de milagre não é válida por que somos seres
em Deus; o mundo é o que é, e não o que o homem quer que ele seja. Desta forma
ele posiciona-se contra a superstição e a ignorância por que, quanto mais
ignorância alguém tiver, mais ele será supersticioso podendo ser manipulado
fácil mente por outra pessoa
Em relação a
paixão e a ação, em partes, o homem é causa de sua sensações e desejos
por causa das coisas exteriores a ele, sendo elas mais fortes que seu interior,a ação está relacionada a partir de alguma coisa
sendo essa a concepção no século XVII, para ele, a alma é idéia do corpo e ambas devem agir juntas no corpo.Estes
formam alguns dos principais apontamentos colocados no artigode Marilena Chauí:
“(...) somos causa
inadequada de nossos apetitese de nossos desejos... Sendo a alma idéia de seu
corpo e idéia de si... será passiva juntamente com seu corpo, e ativa
juntamente com ele.”
Paixão, ação e
liberdade em Spinoza, p 4 e 5
Com isso
autora do artigo deixa clara a união de paixão e ação por Espinosa, e a
igualdade entre elas, algo que antes era impossível de acontecer por causa do
pensamento fechado dos que antecederam o filósofo.
Seu pensamento complexo tem influência muito
forte sobre o pensamento contemporâneo, por que se o homem não tiver uma mente
suficientemente aberta para dialogar consigo, ver a si próprio e de certa
forma, encarar o mundo como ele é, não dará abertura ao conhecimento afinal, é
muito importante na contemporâneidade, através do conhecimento é possível o
homem se aproximar de Deus, tanto que Espinosa frisa a questão de se fazer
ciência, descobrir as coisas que estão na Totalidade; o homem trabalha para isso
usando a sua razão e fazendo-o de forma adequada, ele possui mais conhecimento,
quanto mais conhecimento ele tiver mais próximo ele estará de Deus.
Este texto não tem a pretensão de
resumirpontos pricipais de sua obra, somente observá-los e fazer-nos pensar em
sua postura imanetista e mesmo sabendo da complexidade dos assuntos que foram
apontados, cada autor a sua maneira, coloca de forma singular a posição
racionalista de Espinosa e algins pontos que acharam relevantes mas acima de
tudo; é um filósofo que realmente presa pela alegria de viver, nas paixões que
contribuem para o auto aprimoramento, mostrando através dos argumentos
defendidos pelos autores dos artigos que é possível ser livre, feliz e
esclarecido sem depender de superstições, tudo isto através do conhecimento e
valorização das coisas dentro da imanência divina.
Parabéns pelo blog, estou te seguindo companheiro. Beijo grande
ResponderExcluirParabéns meu grande irmão Eric.
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